Deste fogo que arde e ninguém queria ver: carta a Camões
Foto: sapo.pt
Passei um fim-de-semana fabuloso, desligada do mundo.
Porém, ao chegar a casa, ontem à noite, toda a felicidade e bom humor se varreram rapidamente.
COMO É POSSÍVEL, 4 MESES DEPOIS, A HISTÓRIA DE HORROR VOLTAR A REPETIR-SE???
Por isso, com toda a mágoa, revolta e pesar, em vez de relatar um insignificante fim-de-semana, apenas consigo repetir um texto que publiquei no dia 13 de agosto:
Lembras-te, Camões, do
“Campo que te estendes
Com verdura bela
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes”?
Neste momento, são cinza pisada pelo sofrimento de homens e mulheres que tudo perderam. Estão recortados por hastes negras, onde a bandeira de Portugal se poderia ficar a meio, em sinal de luto.
Sabes Camões, as Leonores de norte a sul, já não vão pela verdura… fogem, inseguras, de imensas labaredas que tudo engolem e que as querem agarrar…
As árvores, que se erguiam como os mastros das antigas caravelas, tombam naufragadas por ondas de fogo.
Do extenso nevoeiro de fumo, que desde Junho cobre a tua pátria amada, ninguém espera por D. Sebastião! Clamam por bombeiros, por meios aéreos, por água, por socorro e salvação.
Será a culpa da ira dos deuses, do vento e do tempo, ou de um qualquer Adamastor?
Com um nónio, um quadrante e um astrolábio, nunca te perdeste no mar, pois não? Eu vejo os noticiários e tenho a sensação de que quem está ao leme não consegue dar rumo a este navio. Sinto o cheiro de marinheiros que não olharam para as estrelas antes de se fazerem ao mar.
Nunca tivemos tantos meios, tanta tecnologia, tantos réis da coroa gastos em planos, em meios de telecomunicação, em negócios com empresas de meios aéreos! E, todavia, em momentos de puro terror, Deus desliga a misericórdia e tudo falha…até o SIRESP.
Ainda assim, há portugueses aguerridos, da mesma têmpera daqueles que passaram para além da Taprobana, que desafiam a lei de Lúcifer a troco do socorro das pessoas e do património do nosso país. São os BOMBEIROS, O GIPS E TODOS OS VOLUNTÁRIOS SEM ROSTO ( e agora também sem voz) que:
“Em perigo e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana”
Tentam salvar a pátria Lusitana!
Orgulha-te deles, Camões.
Obrigada heróis!