O veto do Sr. Presidente e a minha triste relação com a política
O início de ano de 2018 ficará na história da política portuguesa como um momento triste: ainda antes do Dia de Reis, o Sr. Presidente da República roubou o presente de Natal do sapatinho dos partidos políticos. Isso não se faz!
Não é que eu goste de política. Aliás, tenho um trauma de juventude que me impossibilita de aproximar mais de 100 metros de tudo o que tenha a ver com partidos políticos.
Passo a contar:
Corria o ano de 1987 quando viajei até Lisboa numa visita de estudo organizada por uma professora: das primeiras deputadas em Portugal, uma Mulher de Abril!
Calhou, nesse dia 3 de Abril de 1987, em que visitámos a Assembleia da República, debater-se na arena do Hemiciclo, uma moção de censura ao governo de Cavaco Silva.
Calhou, eu, que acreditava (na ingenuidade dos meus 16 anos) que os nossos governantes eram as pessoas mais íntegras, inteligentes e educadas do país, ter assistido à pior cena de ofensas, gritaria e má-educação de que tenho memória. A agitação era pior do que numa turma da pré-escola, ninguém se conseguia fazer ouvir porque os restantes deputados uivavam e batiam com os pés no chão para abafarem os discursos!
No meio do meu horror, lembro-me do brilho nos olhos da minha professora, que estava a rejubilar com o espectáculo.
Já cá fora, na escadaria da Assembleia, um deputado reconheceu-a, cumprimentou-a e perguntou-lhe o que estava ali a fazer.
- Vim mostrar aos meus alunos como se derruba um governo – respondeu orgulhosa.
Pois a mim, mostrou-me outra coisa: o que é a política nua e crua. E eu não gostei.
Continuo sem gostar, 30 anos depois. E os convites que já me fizeram para integrar listas autárquicas continuam sem me seduzir. Nem pela vontade de tentar melhorar a minha terra. Nem por vingança (que saberia tão bem) ... Simplesmente não quero correr o risco de acabar a bater os pés numa assembleia qualquer...