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A 3ª face

Qua | 25.04.18

E o melhor bolo para comemorar o 25 de Abril?

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Tem que ser grande como a planície alentejana.

Simples e robusto como aqueles que enfrentam a labuta ao sol ardente.

Feito da massa com que este povo se alimenta.

Cheirar à energia com que se trabalha ao som do cante.

E ser moreno como a vila de onde provem a receita.

 

Haverá melhor bolo para simbolizar o 25 de Abril do que este, feito com massa de pão alentejano, azeite (de oliveiras alentejanas) e açúcar amarelo?

É tradicional de Grândola Vila Morena e é delicioso.

Chamam-lhe Enxovalhada, vá-se lá saber porquê.

 

Aqui fica a receita:

 

Enxovalhada

1 kg de massa de pão

500 gr de açúcar amarelo

6 ovos inteiros

raspas de 1 limão

canela q.b

2 colheres de sopa de bicarbonato de sódio

2 dl de azeite.

 

Bater a massa com os ovos, o açúcar, o azeite e o resto dos ingredientes. Levar ao forno (180º) em forma untada e polvilhada com farinha.

O bolo fica grande. Se preferirem, optem por fazer metade da receita.

 

E VIVA O 25 DE ABRIL E O ALENTEJO! 

 

 

 

 

Qua | 25.04.18

Abril e os presos políticos

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créditos da foto

 

Estou aqui a pensar nos presos políticos que conheci.

Não me recordo de muitos porque era pequena mas mantenho vivas algumas conversas dos meus pais com os vizinhos. Sobre os presos e sobre os "bufos", que alegadamente conquistavam a liberdade por denunciarem camaradas.

Curiosamente, o impacto da prisão política chegou-me aos vinte e tal anos, já a trabalhar, quando me contaram a história de dois homens.

Um dos trabalhadores, meu colega, homem da terra, tinha sido preso político. Trabalhava na equipa do "asfalto".

Um engenheiro de Lisboa, que acompanhava algumas obras, vinha cá algumas vezes por mês. Também tinha sido preso político.

Quis o destino que se reencontrassem aqui, ao fim de muitos anos. Haviam sido companheiros de cela na prisão.

Prefiro não imaginar o que passaram juntos. Mas presumo que dois presos políticos na mesma cela sejam dois homens nus. E não me refiro à roupa. Dois homens torturados, em sofrimento extremo, não terão máscaras, segredos, preconceitos. Revelam a alma na sua essência, nas conversas, nas confissões e partilha de sonhos e pensamentos.

Ora eu assisti várias vezes ao encontro deles e aos cumprimentos que faziam.

E isso é que me impressionou.

O engenheiro rasgava um sorriso afectuoso, os olhos brilhavam e dava-lhe um abraço apertado. Percebia-se que ficava feliz por vê-lo. 

Já o Sr. Matias, nunca o vi efusivo no cumprimento. Mantinha uma certa distância emocional e tratava-o por Sr. Engenheiro.

Sempre.

Talvez o Sr. Matias revivesse no companheiro de cela o sofrimento de décadas atrás.

Mas estou convencida de que não era isso.

Cá para mim, dentro do Sr. Matias, a revolução de Abril não se fez por inteiro.

O espírito de subserviência e de inferioridade do campesinato alentejano manteve-se intacto naquele homem.

E um engenheiro, mesmo que tenha sido seu irmão num momento difícil da vida e até tenha defecado a seu lado, será sempre um engenheiro.