Para manter a minha zona de conforto, gostava de voltar àquilo que sei fazer melhor: trabalhar em inclusão social, sobretudo com idosos.
Mas gostava de ter mais tempo para me dedicar ao artesanato, sobretudo à produção de sabonetes artesanais e, claro, de costura criativa. Quem sabe se não estaria na FIA, por esta altura?
Depois, adoraria dedicar-me à escrita. Ter tempo para escrever os livros que tenho esboçados na cabeça.
E aquilo que nunca seria? Empresária, mulher de negócios.
Assumidamente, coisa que eu não consigo fazer é ganhar dinheiro.
A terminar o ano lectivo, entre exames para corrigir, greves por terminar e lugares para concorrer, as escolas esvaziaram-se.
Os corredores estão em silêncio e nas salas, pode escutar-se o eco das vossas vozes cansadas.
As férias estão quase aí, senhores professores.
Foi um ano duro, como sempre.
À exigência da profissão, soma-se, muitas vezes, o desgaste físico de quem faz dezenas ou centenas de quilómetros. Todos os dias.
Depois é o fantasma da avaliação.
Ou a ansiedade de conseguir um lugar no quadro.
Ou o elástico da conta bancária, que tem que ficar muito esticadinho para conseguir pagar as contas da família e do quarto arrendado, onde se trabalha.
No meio de tantas preocupações, não é difícil esquecer os alunos.
E fazer do ensino uma rotina entre toques e trocas de chaves. Como quem aperta parafusos numa linha de montagem.
Mas deixem-me fazer-vos uma pequena pergunta:
de que professores se recordam?
de quais guardam memórias?
Eu estava aqui a pensar naqueles que recordo dos 20 anos em que estudei...
e consigo visualizar perfeitamente:
- aqueles muito maus, com distúrbios do foro da psiquiatria, pela antítese da imagem social que eu tinha de um professor;
- aqueles que me ensinaram a explorar as minhas capacidades, os desafiantes que me obrigaram a ir mais longe e que me trataram como uma filha.
Porque, de facto, a matéria nós esquecemos.
O que fica é a relação emocional que nos facilita (ou não) a aprendizagem.
É a paixão de ensinar que captamos nas entrelinhas dos verbos ou numa equação matemática.
E se me perguntarem o que é um bom professor, eu repito que
é aquele que ensina sem o aluno dar por isso!
É o que transforma a aprendizagem em prazer e não em obrigação!
É aquele que ajuda um aluno a crescer, em qualquer idade!
Àqueles que passaram pela minha vida e deixaram marcas boas;
Àqueles que estão a passar pela vida dos meus filhos e os ajudam a crescer como pessoas, apenas uma palavra:
Eu pedi tanto (e concorri tanto) que lá consegui um bilhete duplo para a Feira Internacional de Artesanato.
Considerei-a uma prenda de anos e foi lá que passei parte do dia de aniversário.
(Agradeço aos professores da minha filha, que lhe marcaram uma oral para esse dia e os papás fizeram questão de esperar por ela para a trazerem sã e salva de volta a casa.)
A FIA é a montra anual daquilo que as mãos dos portugueses (e arredores) fazem de melhor.
A criatividade aqui não tem limites e transforma qualquer material em obras de arte e peças lindas.
Se já esperamos ver peças de barro, de tecido, bordados ou filigranas, conseguimos sempre surpreender-nos com outros materiais menos comuns, tal como a cortiça, a madeira, as pedras naturais, as redes de galinheiro...
Cada stand tem a sua especificidade, cada artesão constrói com as suas mãos o que a imaginação e criatividade liberta.
Para todos os gostos, paixões e carteiras...
Mas, na imensidão dos dois pavilhões dedicados ao artesanato (nacional e internacional), eu vejo algo em comum:
o orgulho dos criadores, o brilho nos olhos quando se cruzam com o nosso ar de admiração. Quando nos revelam pormenores das criações ou o significado de uma peça.
Sei do que falo: só as mãos das pessoas felizes conseguem criar aquilo que poderão apreciar durante estes dias!
Porque cada peça é o resultado de horas de carinho e atenção e está envolvida em emoção e muito amor. Como se fosse um filho único que ali se mostra...
Artesanato em cortiça
Peça de Joana Vasconcelos
Primeiro prémio "Melhor peça de artesanato tradicional" - Laurinda Pias
Primeiro prémio "Melhor peça de artesanato de contemporâneo" - João Marante Oliveira
O crocodilo feito em rede de galinheiro
Já tinha falado deste artesão aqui, como a maior surpresa de 2017)
Mas nem só de artesanato vive a FIL, durante estes dias.
O pavilhão 4 está ocupado pela boa gastronomia portuguesa: a charcutaria, os queijos, os licores, os doces (ai os doces...)
E foi aqui que acabei a noite, entre uma bela sandes de queijo de cabra e mel, um café em copo de chocolate e um doce de ovos de Aveiro.
Afinal era o meu aniversário, caramba!
E ainda tive direito a apreciar a Marcha de Carnide, que animou os milhares de visitantes que por ali se deleitavam.
Desconfias que estás mesmo a envelhecer quando a tua prenda de anos inesperada é uma COROA.
E não é coroa de Miss.
Também não é de princesa.
E tampouco de rainha...
É mesmo a coroa de um cab@#o de um dente que resolver partir-se na véspera do teu aniversário!
Às vezes, olho para o meu embrulho e já o vejo meio amachucado, com as fitas baças e meio desfiadas.
Há-de chegar o dia em que não reconheço aquilo que me envolve.
Ele há-de rasgar-se e abandonar-me muito antes de eu achar que chegou a hora.
Mas é o único que tenho e apesar de já ir mostrando, aqui e ali, alguns rasgões, continua a acompanhar os meus momentos de felicidade diários e a alimentar os sonhos que ainda tenho por realizar.
Pois, para ti, que fazes hoje anos, parabéns embrulho!
Eu ando cá por dentro, ainda sem noção daquilo que já és!