Desde sempre que tenho o privilégio de frequentar praias com pouca gente.
A costa alentejana, desde Melides a Tróia faz-nos acreditar que o mar é infinito, não fosse a Arrábida recortar essa ilusão.
E, nesta imensidão, é fácil passar o dia afastado de outras famílias.
Mesmo quando passar o dia na Comporta nos dava privacidade e amplitude.
E há sempre aquelas praias escondidas entre as dunas que podem ser só nossas por um dia.
É raro fazer férias no Algarve, por vários motivos, um dos quais, a sobre-população das praias.
São verdadeiras colónias de espécimes avermelhadas, com um burburinho que abafa o som das ondas do mar.
Ainda assim, tenho o privilégio de dormir com um conhecedor da região e sempre conseguimos encontrar pequenos paraísos.
Ora este ano, calhou vir parar ao Algarve, a uma casa junto ao mar e a uma praia que, apesar de não estar a abarrotar, não nos dá isolamento.
Pelo que, finalmente, tenho presenciado o comportamento de muitas famílias com filhos pequenos e aprendido como devem agir os pais no Verão.
-Luís, não fiques na areia!
- Manel, o lugar para te sentares é na toalha. Olha que amanhã não vens!
- Maria, porque é que colocaste a mão na areia? Agora tenho que voltar a ir buscar mais água no baldinho!
- Inês, brinca aqui na toalha, não sujes as mãos!
Afinal, descobri que as crianças não podem ter contacto com a areia, apesar de estarem numa praia.
É perigoso entrar em contacto com os minúsculos minerais sílicos, que os podem levar a passar meia hora entretidos a sentir escapar os grãos por entre os dedos.
Suspeito que as praias, mais cedo ou mais tarde, venham a ser cobertas de ladrilhos ou tijoleira, para se transformarem em piscinas assépticas.
E eu, que passei a vida a enrolar-me na areia com os meus filhos, que não os desinfectei quando "comiam" areia ou se enterravam até ao pescoço, estou cheia de remorsos.
Descobri já tarde que fui mesmo uma mãe de Verão muito má!
Várias iniciativas mundiais visaram sensibilizar a opinião pública para a diminuição do consumo de plástico, sobretudo o descartável.
Todavia, não quero fechar o mês sem falar no plástico invisível: aquele que não se vê e que ignoramos. Mas que não deixa de ser menos grave. Até porque é o responsável pela contaminação dos nossos alimentos…
Se olharmos com atenção, iremos reparar que a maior parte das nossas roupas são feitas de acrílico, nylon e poliéster. Fibras plásticas, afinal.
O que nunca reparamos é que, cada vez que lavamos estes tecidos sintéticos, milhões de micro-fibras são libertadas na água.
As micro-fibras são pedaços minúsculos de plástico, demasiado pequenos para serem filtrados e o seu destino mais provável são os cursos de água e os oceanos, causando danos nos animais marinhos e no ambiente.
Estas fibras plásticas quase invisíveis já foram detectadas em alimentos presentes no consumo humano e estudos científicos apontam que as micro-fibras são responsáveis por cerca de 85% da poluição costeira do planeta.
Micro-fibras azuis presentes numa ostra
Os especialistas, apontam algumas medidas que podemos adoptar no dia a dia, para reduzir este tipo de poluição invisível.
Bem simples de adoptar por qualquer um de nós:
1 – Lavar as roupas sintéticas menos frequentemente e o mais rapidamente possível.
2 – Fazer lavagens com a máquina cheia. Desta maneira, gera-se menos fricção entre as peças de roupa, libertando-se menos fibras.
3 – Utilizar detergente líquido. O pó fricciona a roupa, favorecendo a libertação das fibras.
4 – Lavar a temperaturas baixas. As temperaturas mais elevadas podem danificar as roupas, libertando-se ainda mais fibras.
5 - Após a limpeza dos filtros das máquinas, colocar os resíduos no lixo e nunca no esgoto.
6 – Evitar comprar roupa “fast-fashion”, sempre que possível.
7 – Privilegiar fibras naturais, como o algodão, o linho e a lã. Estas fibras degradam-se no ambiente. As fibras acrílicas não.
8 – Existem algumas soluções que filtram a quase totalidade das fibras durante a lavagem, embora sejam bastante dispendiosas. É o caso de filtros para as máquinas de roupa, que custam cerca de 120 € (como este ou este ou os sacos de lavagem Guppy Friend, que rondam os 30 €).
9 – Divulgar o que são micro-fibras e que medidas poderemos adoptar para reduzir a sua propagação no ambiente.
10 - Recusar produtos de higiene e beleza que contêm micro-plástico na sua composição, tais como dentífricos e esfoliantes, por exemplo (ver este post)