Conhecem a anedota do Alentejano que morreu e chegou ao Inferno, de capote vestido?
Sentou-se calmamente e por ali ficou.
O Diabo, surpreendido por não o ouvir reclamar do calor, aumentou ainda mais a temperatura.
O Alentejano, calmamente, tirou o lenço vermelho que trazia ao pescoço e por ali ficou.
O Diabo, ao vê-lo impávido e sereno, tornou o inferno ainda mais quente.
O Alentejano, sentido o calor aumentar, pegou no lenço vermelho e levou-o à testa, para limpar o suor e por ali ficou.
O Diabo, já irritado, tornou o Inferno ainda mais quente.
Aí, o Alentejano desabotoou o botão do colarinho, ajeitou o capote e por ali ficou. Porém, mostrou uma cara preocupada.
O Diabo, ao ver esse aspecto consternado, não resistiu e foi ter com o Alentejano, com ar zombeteiro:
- Então compadre, parece preocupado. Não se sente bem?
- Por acaso, tô cá cismando com uma coisita -respondeu o Alentejano.
- E o que é, compadre, não gosta da temperatura do Inferno?
- Pois é mêmo isso. Está quentinho e eu tô preocupado... se isso está assim aqui, tô imaginando como é que nã tará lá em Beja!
O Alentejo conhece o calor extremo todos os anos. Mais grau, menos grau, há dias em que não se consegue sair à rua.
Como estes últimos três dias, em que nem a noite nos arrefece.
Uma família alentejana sabe que não pode abrir janelas nem portadas durante o dia. Vive-se na penumbra.
Eu sei e assim faço.
A nossa famosa lentidão é o segredo para sobreviver acima dos 40º. Movimentos bruscos aumentam o ritmo cardíaco e a temperatura corporal e nós precisamos é de manter o corpito fresco.
Por isso, acordamos mais cedo para fazer o essencial e depois reduzimos a actividade ao mínimo.
Alimentamo-nos de gaspachos frescos e muita melancia.
Os animais também são família e ficam cá dentro.
Todos dormitamos, que é assim que se luta contra o calor infernal.
Ao anoitecer, estendemos a roupa e antes de dormir estará pronta para ser apanhada.
Há-de acumular-se junto à tábua, à espera de dias mais frescos.
E vamos esperando que passe o "calmêro".
Enquanto isso, agradecemos. Por não vermos as nossas árvores propagar a fúria do fogo que alastra noutros pontos do país.
O calor há-de passar e voltar. Faz parte da vida, como as searas de trigo.
As minhas férias no Algarve poderiam ter um título:
Os Cinco na Praia
Mas estes costumavam andar em bando e não foi bem o que aconteceu.
Talvez por isto, foram as melhores férias na praia de que tenho memória.
Como prometido, vou contar-vos tudo em vários posts.
Começo hoje por vos apresentar os cromos desta caderneta da família-maravilha:
A SOGRA
A sogra adora praia.
Só não gosta de água fria pelo que, a única vez que molhou os pés, queimou-os e tivemos que ir à farmácia comprar Biafine.
Ela jura a pés juntos que foi da água fria.
Eu desconfio que foi das sornas que bateu na toalha... mas quem sou eu para contrariar uma sogra?
Também foi graças a ela que contribuímos para uma estadia mais ecológica. Ficámos sem electricidade por duas vezes.
Até descobrir que a sogra tirava as torradas da torradeira com uma faca porque não a sabia desligar e não queria pãozinho queimado. E, como é óbvio, a EDP não quer electrocutar sogras no Algarve e preparou o quadro para disparar nestas ocasiões...
O FILHO MORCEGO
Em 7 dias, menos de uma hora de permanência na praia.
O meu filho odeia tanto, mas tanto praia que, logo no primeiro dia, adoeceu.
Com dores no corpo e uma leve impressão na garganta, passou os dias sem ver o sol.
Deitado no sofá, às escuras, fazia a primeira incursão à rua por volta das 21.00 horas, para jantar no exterior.
Claro que depois passava as noites a apreciar a beleza da lua e o mar prateado, até os primeiros raios de sol lhe indicarem que estava na hora de dormir...
A FILHA FRIORENTA
Já não há sangue jovem como antigamente.
A minha Mãozinhas não aguentou as gélidas águas do Algarve (é verdade que a água estava fria mas a gente tem que armazenar frio para os dias de calor extremo, caramba!)
Desforrou-se a ler e a fazer exercício.
E, para quem sabe porque é tratada por mãozinhas, comunico que só partiu um copo durante as férias. Yeahhh!
(quem não sabe ainda vai a tempo de descobrir aqui)
O MARIDO AVENTUREIRO
Com ele, há sempre qualquer coisa que descarrila.
Era suposto as férias serem casa-praia, praia-casa e pouco mais.
Porém, uma bela noite, raptou-me quase à meia noite e levou-me para um lugar fantasmagórico.
Por momentos ainda pensei que ele, como quem não quer a coisa, me fosse empurrar das rochas para me substituir por alguma sueca da praia.
Mas o que queria mesmo, era mostrar-me o mar naquela paisagem do outro mundo.
Não havia luar e não se via um palmo nem com a lanterna do telemóvel.
Combinámos voltar no dia seguinte ao pôr-do-sol e hei-de revelar-vos , noutro post, o que era isto.
Entretanto, se quiserem tentar adivinhar...
EU, A SEREIA
Não só por causa do corpo irresistível.
Mas porque o mar é a minha máquina de lavar. Limpa-me a alma até não restar qualquer nódoa de tristeza, cansaço e pensamentos negativos.
Foi lá dentro que passei a maior parte dos dias.
E não sei se foi impressão ou se da água gelada, mas quando saía tinha a leve sensação de ter os pés transformados em pequenas barbatanas...
A intrusa
A gaivota que todos os dias que vinha partilhar as bolas de Berlim com a minha sogra.
(Continua amanhã, que as férias são mesmo para render.
Se quiserem acompanhar esta caderneta de praia, voltem a passar por cá)