Já tinha explicado que o meu filho se transformou em morcego durante as férias.
Pois continua.
Ele até se tem esforçado por acertar os sonos mas diz que não consegue.
Adormece quando o Sol nasce. Acorda quando a Lua pede licença para aparecer.
Eu, que até sou uma mãe tranquila, já teria desistido de me chatear. Não tarda a escola recomeça e a carruagem volta aos eixos do costume.
Mas...
também sou filha de uma mãe que vive aqui ao lado e cuja missão de vida é assegurar que o "menino" não morre à fome!
A partir das duas da tarde (quando eu regresso ao trabalho) tenta acordá-lo.
Tem sucesso lá para as quatro da tarde e prepara-lhe o almocinho a essa hora, que leva até ao sofá ou à secretária do computador.
Às cinco e meia, quando eu volto a casa, está à porta à minha espera, com o chorrilho de lamúrias:
não me imponho...
o moço apanha uma doença...
isto não é vida...
o menino assim apanha uma fraqueza...
não o obrigo a comer à mesa (ler o sublinhado do parágrafo anterior)...
não faz mais nada durante o dia à espera que ele acorde...
anda doente à conta disto...
está uma carga de nervos...
anda a vê-lo mirrar...
Ontem, depois de mais uma noite em claro, o "menino" decidiu acertar os sonos e não se deitou.
Esteve no computador até à hora do almoço e comeu à mesa comigo.
Desconhecendo a razão, a avó estava super-feliz, julgando que o seu menino tinha acordado a horas decentes.
Às cinco, quando cheguei a casa, fui vê-la e continuava contente: até tinha conseguido dormir a sesta!
Quando entrei na minha casa, não ouvi o meu filho.
A porta do quarto estava fechada e presumi o inevitável: que tivesse adormecido, sem aguentar a directa.
Fui à casa-de-banho.
Raios, a desarrumação do costume!
Por mais que eu diga, o gaiato toma banho e deixa tudo desarrumado: o tablet desligado estava na bancada, a toalha no bidé, a roupa suja no chão, a cortina esticada, sinal de que não limpara a banheira!
A resmungar para dentro, puxo a cortina para dar uma chuveirada e retirar o tapete antiderrapante...
E...
Eu não mereço...
Nenhuma mãe merece...
...estava um corpo inerte dentro de água...
Eu dou um grito de pânico...
...ele arregala os olhos, volta a fechá-los.
O filho da mãe adormeceu no banho de imersão e eu, com o susto, se não sofri uma paragem cardio-respiratória, tive o diabo em cima de mim.