Gelado com sabor a DESTAQUE
Apesar do assunto ser sério e triste, um gelado com sabor a destaque sabe sempre bem.
Obrigada Sapo!
Se ainda desconhecem que a escassez de baunilha já provocou mais de uma centena de mortes, espreitem o post aqui.
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Apesar do assunto ser sério e triste, um gelado com sabor a destaque sabe sempre bem.
Obrigada Sapo!
Se ainda desconhecem que a escassez de baunilha já provocou mais de uma centena de mortes, espreitem o post aqui.
Depois de me reformar.
Quando me sobrar tempo e já me faltar metade do juízo (dizem que o medo é proporcional ao juízo, não é?
Ainda hei-de aprender a andar de bicicleta!
(Nem que me parta toda na primeira curva)
Nesta TAG participam para além de mim a Ana, a Ana Paula, a Catarina, o Carlos, a Carlota, a Charneca em Flor, a Daniela, a Desarrumada, o David, a Fátima, a Gorduchita, a Happy, a Hipster Chic, a Isabel, a Mãe A, a Mariana, a Maria Mocha, a Marquesa de Marvila, a Mimi, a Paula, o P.P, a Sweetener, a Sofia, a Tatiana, a Tita e o Triptofano
O dia do regresso é sempre complicado.
E não é porque chega o momento em que se torna evidente que as férias terminaram.
É porque temos que voltar a enfiar a bagagem dentro do carro.
Era suposto haver mais espaço.
Não era suposto desfazermos duas vezes a carga para ver se conseguíamos trazer tudo.
Não era suposto deixarmos lá um guarda-sol, com o pretexto de que iria fazer muita falta à próxima família (ou isso ou arriscarmo-nos a partir um vidro durante a viagem).
Ainda era cedo e ponderámos vários percursos porque não nos queríamos cruzar com a Volta a Portugal em Bicicleta (e ficarmos parados na estrada).
Optámos por visitar Sagres, que os meus filhos não conheciam.
Antes, parámos para almoçar, onde esperámos hora e meia que a refeição chegasse à mesa.
Podem imaginar o nosso humor, não é?
Mas um cromo estava super feliz. O filho morcego recuperara a saúde e a alegria de viver, na eminência de chegar (finalmente) a casa.
E conseguiu arrancar-nos a maior gargalhada das férias.
- Mana, se eu tiver um filho, nunca lhe vou dar o nome de Sócrates.
- Então porquê?
- Porque ele teria 50% de probabilidades de ser filósofo e 50% de ser corrupto, não achas?
- Pois, tens razão.
- É que eu não queria nada ter um filho filósofo...
Ai cromo...
(O outro percurso que ponderámos era passar por Monchique, para matar saudades.
Mas o meu marido achou que não valia a pena, porque em breve teríamos que lá ir abastecer os garrafões de água.
Ele ainda não sabia que no dia seguinte seria tarde de mais.
Desconhecia que lá iria muito em breve e viria carregado de água.
Não nos garrafões.
Mas nos olhos...)
Maravilha
Mistério
Medo
Foi o que senti ao descobrir o Algar Seco, no Carvoeiro.
Ali escondido, está uma verdadeira maravilha da Natureza, assustadoramente bela e intrigante.
(Ai que eu caio!)
O Algar Seco é um complexo de rochas calcárias, cavernas e piscinas naturais que a erosão esculpiu misteriosamente nestas arribas.
Após descer uma escadaria talhada na escarpa, vislumbro uma piscina natural , ladeada por um rendilhado que a força do vento e do mar ali traçou.
A pequena lagoa é de um verde brilhante e transparente, que nos deixa ver as rochas do fundo. Apesar da água gelada (eu nem me atrevi a experimentar) é possível tomar ali banho, ao som das ondas e do vento que entra pelas galerias e sopra de baixo para cima.
Contornando a pequena lagoa e atravessando um pequeno desfiladeiro, deparamo-nos com uma vista surpreendente da costa.
Pedra, mar e aves. Ali, o resto do mundo fica esquecido, lá para trás.
Medo, disse eu.
Sim. O local é perigoso e assustador. Quando lá forem (a visita é obrigatória) levem ténis, não vá o pezinho escorregar.
Calabouço de demónios e monstros do mar, asseguro-vos eu, que até consegui ver o Adamastor aprisionado no meio das rochas!
O outro ponto obrigatório é a Boneca.
Passem pelo restaurante e sigam a indicação da parede.
Não tinha percebido por que raio o lugar se chamava boneca até ver a sua morfologia.
Cá por fora, a boneca mete medo: é gorda, feia e come barcos!
Mas por dentro, esconde uma pequena maravilha!
Entrem no túnel e preparem-se para mais uma surpresa.
As duas janelas abertas na rocha oferecem-vos uma paisagem indescritível!
Seria o sítio mais romântico do Algarve, não fosse o entre e sai constante de turistas que nos estragam o momento!
(Acho que ainda não vos disse que os filhos cromos e a sogra ficaram em casa, pois não? Uns porque não quiseram ir e outra porque não conseguiria trepar tanta rocha.)
Continuei pelo passadiço que liga o Algar Seco ao Carvoeiro.
Uns metros à frente, outra escadaria convida-nos a descobrir mais um mistério.
Desta vez, sinto-me transportada para a paisagem de Marte!
Subo e desço rochas e túneis que as águas e o vento comem há 24 milhões de anos.
Para onde olho, vejo conchas fossilizadas, onde as aves vêm pousar.
Dali, vejo as arribas até ao Carvoeiro. E o Sol que já se despede.
Há mais fotografias no Facebook do blog.
Espreitem.
Mas, se ainda não conhecem, na vossa próxima visita ao Algarve, vão até lá.
Vão gostar tanto como eu!
No Alentejo, o calor vai dando tréguas. O crepúsculo liberta uma brisa agradável, que me convidou a uma caminhada solitária.
Gosto de caminhar sozinha.
Os passos silenciosos ajudam-me a arrumar as ideias, a libertar preocupações, a encontrar-me no caminho.
As minhas caminhadas solitárias levam-me invariavelmente a um ponto alto da cidade, onde contemplo a beleza do sítio onde vivo.
Lá em baixo está tudo verde, tudo calmo.
O sol despede-se em tons rubros, fazendo-me agradecer esta paz.
Eu sei que lá mais a sul está o Inferno e que lá, a cortina de fumo tapou demasiado cedo este mesmo Sol.
Mas eu não quero pensar em Monchique. Por razões pessoais, eu não quero que o pôr do Sol me leve lá.
Continuo a caminhada.
O Verão entardeceu e já é Outono.
Pelo menos é o que as folhas secas que cobrem o chão me sussurram.
Ou foi do calor extremo que as secou demasiado cedo ou é da tristeza, por vislumbrarem, lá de cima, a agonia do Algarve.
É só mais um exemplo daquilo que consumimos sem fazer ideia do que está por detrás.
No final do ano passado, uma forte tempestade tropical e os problemas políticos em Madagáscar (país responsável por 80% da produção mundial de baunilha) resultaram numa quebra da produção desta matéria-prima, que veio desequilibrar o mercado deste produto a nível mundial. Face à escassez, os preços dispararam desmesuradamente.
Hoje, ao ver a RTP3, tive a noção de que um maravilhoso gelado de baunilha pode esconder várias mortes.
É que, no Uganda, os ladrões estão a invadir as fazendas para roubar baunilha, resultando em graves conflitos e cenas de violência que já causaram mais de 100 mortes.
O próprio sistema de comercialização, em que o comprador adianta o dinheiro antes da colheita, tem contribuído para este cenário de mortes, quando o produtor não consegue entregar a quantidade de produto combinada.
É nestes momentos que me sinto tão, mas tão ignorante neste mundo!
Podem ver a reportagem aqui, a partir do minuto 7.07.
Se já sabem quem somos e onde passámos as férias, devem estar curiosos para saber do pouco que fizemos.
Para além de praiar e descansar...pouco mais.
Ah, por falar em açúcar e sal, falemos de
O que comemos
Não foi à toa que eu levei o carro a abarrotar!
Fizemos quase todas as refeições em casa, com produtos que levei da horta e outros que comprámos no Pingo Doce de Armação.
Usei e abusei do meu grelhador, conforme vos contei no post "Como eu poupo nas férias".
A ementa foi bastante saudável, à base de grelhados, saladas, sopa e ovos.
E muitos vegetais, já que a filha friorenta é vegana a 98%.
Coitada da sogra, que se aventurou a provar e teve vergonha de dizer que não gostava lá muito da comidinha da neta.
Ela é mais carne, desculpava-se...
Não fossem as malditas batatas fritas e tinha sido a semana mais saudável da minha vida!
Vá, mais metade de uma bola de Berlim... e o restinho de 2 gelados que os meus filhos não conseguiram comer...e o pastel de batata doce do Rogil, no regresso (ups, afinal não me portei assim tão bem)
Como a casa tinha espaço exterior, fazíamos as refeições ao ar livre.
Querem sugestões de refeições rápidas para as férias?
-bacalhau assado com salada e batata cozida com pele;
- salada de atum, feijão frade, tomate e ovo;
- sopa e camarão cozido;
- bifes grelhados com esparguete integral e salada com vegetais e fruta;
- grelhada mista com arroz e ananás e cogumelos grelhados;
- salada russa;
- noodles com salteado de legumes;
- arroz com feijão preto, cogumelos, sementes de cânhamo e pimentos;
- o famoso prato conhecido no círculo gourmet por Redon (em alentejano: restos de ontem)
Porém, eu não consigo estar próximo de Armação sem ir ao Cantinho da Dora petiscar os camarões "al guilo" e a tosta de camarão XXL, a melhor do planeta!
É um sítio barato, com uns bons petiscos, mesmo em frente ao parque de estacionamento.
Parece que os caracóis também são uma das especialidades da casa mas eu, que costumo comer os melhores caracóis do universo, ainda não me atrevi a provar).
Tirando o almoço no dia de regresso, foi a nossa única refeição fora.
Se lá forem, não confundam o número da mesa com o valor da conta. É que na hora de pagar, o empregado escreve o número da mesa na toalha e pede que vão ao balcão pagar, identificando a mesa.
Por graça, o meu marido disse à mãe que o jantar tinha custado 210 € (era a mesa 21) e só na viagem de regresso de férias é que ela percebeu (a muito custo) que tinha sido enganada.
Foto retirada do Facebook
Dias para todos os gostos
Apesar da água estar gelada, aproveitei os dias para agitar a minha cauda de sereia formosa. E boiar ao sabor das ondas, que é das coisas mais relaxantes que conheço!
Li como uma perdida, coisa que não fazia desde o verão passado. Levei apenas um livro, a pensar que chegava - O Amante Japonês- mas acabei por terminá-lo ao segundo dia e fui roubar "À Boleia pela Galáxia" ao quarto dos meus filhos. Um livro (aparentemente) leve e muito bem humorado, não tivesse sido escrito por Douglas Adams, argumentista da famosa série Monty Python's.
A sogra dormiu na toalha que se desalmou. E todos os dias dividia uma bola de Berlim com a intrusa da gaivota.
Comia com tanta satisfação que não tive coragem de lhe falar sobre os quilos de colesterol escondidos em cada bolinha...
A filha friorenta bem tentava mergulhar na água fria mas desistia e ia ler.
O marido aventureiro fazia piscinas entre a praia e a casa para ir acompanhando a Volta a Portugal na televisão. E foi matar saudades de alguns antigos colegas de trabalho.
O filho morcego dormia durante o dia. Vagueava de noite para me atormentar, queixando-se que não conseguia dormir.
Praia? A grave doença psicossomática, de que se curou no dia do regresso, impedia-o de se aproximar da areia.
Tudo tranquilo. Estávamos logo ali, cada qual geria o seu tempo sem depender dos outros.
Férias de sonho são assim!
O Sunset
Depois do jantar, na nossa esplanada privativa, víamos o pôr do sol e desfrutávamos do café tirado na máquina que levei.
Caso contrário, seriam, no mínimo 6 cafés diários no bar do lado, a 1,10 € cada um.
(É a prova de que as minhas estratégias de poupança compensam: poupei mais de 30 € por ter levado a máquina comigo)
Tínhamos música ao vivo que animava o sunset e o serão.
Na verdade, a música era do bar vizinho mas isto não é considerado furto, pois não?
E, logo na primeira noite, assistimos ao eclipse.
Fotografei-o mas de uma croma como eu não se poderia esperar grande foto.
Saiu isto. Acho que em vez da Lua, ficou o reflexo do meu cérebro...ou do intestino grosso...
Juro que a foto não está editada e tenho esperança que algum fotógrafo me explique que raio se passou aqui!
Algarve by night
Apenas uma voltinha a Armação e outra ao Carvoeiro cortaram a tranquilidade dos nossos serões.
Com o filho morcego a ir sob protesto, sem resistir ao apelo de um bom gelado.
De resto, ficámos pela Srª da Rocha. Íamos até à capela, extasiados com a paisagem nocturna salpicada pelas luzes intermitentes dos barcos de pesca.
Ou ficávamos a ver as estrelas e a ouvir o barulho do mar.
Tudo à volta era silêncio.
Este é o melhor Algarve by night que conheço.
Mas férias, mesmo com o objectivo de descansar, não ficam completas se eu não voltar mais rica.
Rica como pessoa, não pensem que ando a roubar turistas ingleses.
E, sem estar previsto, descobri um lugar maravilhoso que desconhecia.
Esse capítulo fica para amanhã.
Entretanto, para quem está em Armação, vão lá comer um pratinho de camarão "al guilo" à da Dora!
Pago eu
Se não concordarem digam mas eu penso que continua a ser mais fácil arranjar actividades para ocupar as raparigas nas férias do que os rapazes. Que lhes interessem, ressalvo.
Esta semana, trago algumas sugestões de trabalhos criativos que farão sucesso com os nossos meninos. Afinal, quem não gosta de jogar Minecraft e pede aos pais aqueles acessórios que custam tanto como o ouro?
Ora aqui vão algumas ideias:
1) Pintar um quadro ou um painel (não vou arriscar dizer UMA PAREDE):
Comprem ou façam esponjas em forma de quadrado, arranjem tintas e deixem-nos trabalhar à vontade
2) Transformar um cesto
Se tem un cesto de verga que já não usa, como o da imagem, pode ser transformado numa peça para ARRUMAR a tralha do quarto. Pincel e tintas e muito tempo ocupado. Parece-me perfeito.
3) Painel com a técnica de colagem
É arriscado dar-lhe tintas?
Recortem quadradinhos de papel de várias cores e, com uma cola em baton, podem fazer o mesmo trabalho.
(Sugestão: há furadores que cortam o papel com a forma de quadrado, que até se vendem nos chineses. Pode ser uma alternativa para os impacientes)
4) Personalizar copos ou objectos pessoais
Basta colar um molde à peça que queremos transformar e pintar, de preferência com caneta de acetato.
Pode ser usado em copos (de preferência reutilizáveis, por favor), cestos e outros objectos que andam perdidos lá por casa.
BOAS FÉRIAS, COM A CRIANÇADA AÍ POR CASA!
NOTAS IMPORTANTES:
- Sempre que possível, reutilizem e reciclem materiais. As minhas sugestões baseiam-se na filosofia do Desperdício Zero.
Aqui o lema será sempre "poupar dinheiro e o Ambiente".
- Todas as fotos foram retiradas do Pinterest.
- Podem ver o projecto DIY dos Unicórnios aqui
(mi perrdoem o abrasileirado da imagem, tá?)
Advertências:
Se esperam imagens de cocktails, espreguiçadeiras e must-haves de marca, cliquem para o blog ao lado.
Se aguardam por indicações de restaurantes e ementas geniais, sigam para o blog da frente.
Se têm esperança de me ver em bikini, retrocedam para o blog de trás.
Se têm tempo para desperdiçar com umas parvoíces de alguém que conseguiu umas férias de sonho onde não se passou nada in e não apunhalou a conta bancária, caíram no buraco certo.
Mas não continuem sem conhecer os cromos destas férias (aqui).
O local
O meu sonho, desde que me lembro, era viver numa casa isolada, em cima de uma escarpa, junto ao mar.
Daquelas dos filmes, em que se adormece a ouvir as ondas e se acorda com o vento a soprar no areal.
Poderia ser assim, num sítio como este:
em que se acorda, dá-se meia dúzia de passos e tem-se esta vista.
Ou esta:
Acreditam que há sonhos que se realizam, nem que se desfaçam ao fim de uma semana?
Eu acredito.
Fui parar à Srª da Rocha, com uma das paisagens mais impressionantes da costa algarvia. Mesmo ali ao lado de Armação de Pera mas sem a multidão e o buliço dessa vila.
Da minha casa eu via o mar, a capela e o pequeno cabo que foi poupado do desmoronamento durante o terramoto de 1755.
De tal forma perto e tranquilo que nos deslocávamos a pé.
Sem o stress de um cromo ainda não estar despachado e outro não querer ir.
E outro querer regressar a casa quando a maioria preferia ficar na praia.
Não houve conflitos familiares, gritarias e birras.
"Vai andando", "fica", "já vou"...era o que se ouvia nesta família. Oh santa tranquilidade! Há quanto tempo eu não tinha umas férias sem este tipo de stress.
O filho morcego pôde ficar descansado em casa. Até fiz o favor de lhe ir levar uma bolacha americana e voltar para mais um mergulho.
Ninguém se preocupou com o lugar para estacionar o carro. Bastaram os chinelos para trilhar o caminho.
Sim, eu acredito em sonhos que se realizam!
A praia
Bem-vindos ao meu paraíso da água de mil cores: a Praia Nova.
Está ligada à praia da Srª da Rocha por uma passagem secreta escavada na rocha mas para nós ficava mais perto descer e subir os 81 degraus esculpidos na falésia, que vieram tornar esta praia acessível a quase todos. Sim, as oito dezenas de degraus são penosas mas podem ser encaradas como um ginásio ao ar livre.
As rochas e as diferenças de profundidade fazem da praia, quando vista de cima, uma aguarela de vários tons cristalinos. Linda!
As infra-estruturas de apoio e as diversões aquáticas estão na praia ao lado. Apenas chegam ali as bolinhas de Berlim.
Que chatice...
Aqui, reina a calma e o espaço suficiente para estendermos a toalha e deixarmos o chapéu-de-sol espetado enquanto vamos almoçar.
E, desde que me lembro de ser gente, consegui ir para a praia sem saco.
Que prazer levar a toalha debaixo do braço (e deixá-la lá enquanto ia almoçar), um livro e uma pequena bolsa apenas com o essencial!
Espero que compreendam os motivos para não ter mudado de praia.
Namorei-a e fui fiel.
Mas nem só de praia se faz uma caderneta.
Amanhã conto como os crominhos viveram durante uma semana.
E sem se matarem uns aos outros...
Conhecem a anedota do Alentejano que morreu e chegou ao Inferno, de capote vestido?
Sentou-se calmamente e por ali ficou.
O Diabo, surpreendido por não o ouvir reclamar do calor, aumentou ainda mais a temperatura.
O Alentejano, calmamente, tirou o lenço vermelho que trazia ao pescoço e por ali ficou.
O Diabo, ao vê-lo impávido e sereno, tornou o inferno ainda mais quente.
O Alentejano, sentido o calor aumentar, pegou no lenço vermelho e levou-o à testa, para limpar o suor e por ali ficou.
O Diabo, já irritado, tornou o Inferno ainda mais quente.
Aí, o Alentejano desabotoou o botão do colarinho, ajeitou o capote e por ali ficou. Porém, mostrou uma cara preocupada.
O Diabo, ao ver esse aspecto consternado, não resistiu e foi ter com o Alentejano, com ar zombeteiro:
- Então compadre, parece preocupado. Não se sente bem?
- Por acaso, tô cá cismando com uma coisita -respondeu o Alentejano.
- E o que é, compadre, não gosta da temperatura do Inferno?
- Pois é mêmo isso. Está quentinho e eu tô preocupado... se isso está assim aqui, tô imaginando como é que nã tará lá em Beja!
O Alentejo conhece o calor extremo todos os anos. Mais grau, menos grau, há dias em que não se consegue sair à rua.
Como estes últimos três dias, em que nem a noite nos arrefece.
Uma família alentejana sabe que não pode abrir janelas nem portadas durante o dia. Vive-se na penumbra.
Eu sei e assim faço.
A nossa famosa lentidão é o segredo para sobreviver acima dos 40º. Movimentos bruscos aumentam o ritmo cardíaco e a temperatura corporal e nós precisamos é de manter o corpito fresco.
Por isso, acordamos mais cedo para fazer o essencial e depois reduzimos a actividade ao mínimo.
Alimentamo-nos de gaspachos frescos e muita melancia.
Os animais também são família e ficam cá dentro.
Todos dormitamos, que é assim que se luta contra o calor infernal.
Ao anoitecer, estendemos a roupa e antes de dormir estará pronta para ser apanhada.
Há-de acumular-se junto à tábua, à espera de dias mais frescos.
E vamos esperando que passe o "calmêro".
Enquanto isso, agradecemos. Por não vermos as nossas árvores propagar a fúria do fogo que alastra noutros pontos do país.
O calor há-de passar e voltar. Faz parte da vida, como as searas de trigo.
As tragédias, essas é que não!