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A 3ª face

Seg | 08.10.18

Desafio da escrita - dia 8: fruta

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Tinham acabado de deixar o pai sete palmos debaixo do chão.

Mas a mãe, com aquela determinação que lhe conheceu a vida inteira, e apesar do desgosto contido e do cansaço de quem cuidou do marido moribundo, duas semanas seguidas, de dia e de noite, não os deixou abalar.

Quis dividir, logo ali, os bens do marido pelos três filhos: as duas filhas gémeas e o filho.

O resto levaria para a Misericórdia da terra, que daria jeito a alguém.

Entraram os quatro no quarto. O resto da família ficou na sala, à conversa.

A mãe, vagarosamente, foi tirando os tesouros que o marido guardara a vida inteira: o fio de ouro com o crucifixo, o cordão que herdara da avó, o relógio de bolso com corrente, a meia libra, o cinto com fivela de prata…

Todos concordaram que o relógio e o cinto ficassem para ele, que eram coisas de homem.

E a mãe acariciou o cinto, em jeito de despedida e colocou-o no seu colo.

 As memórias do cinto do pai!

José viu-se novamente com 9 anos. Vinha da escola, transpirado pela força do calor e cheio de fome.

Passou pela horta à procura do pai e a pensar trincar alguma peça de fruta.

O pai não estava e o melancial já metia cobiça.

Melancia sempre fora a sua fruta preferida. Ainda hoje.

Não resistiu. Decidiu-se por comer uma talhada e levar o resto para casa.

A primeira melancia do ano!

Sacou do canivete que trazia no bolso e imitou a mãe, quando escolhia as melancias lá em casa.

Galou uma. Três traços a formar um triângulo. Tirou-o para provar mas percebeu que a melancia ainda estava verde.

Voltou a colocar o galo no sítio.

Galou outra. E mais outra. E acabou por galar todas, chegando à conclusão que nenhuma podia ser comida.

Se calhar por isso é que o pai anda não as levara para casa.

Dois dias depois, quando o pai se apercebeu que as melancias estavam a secar e descobriu o motivo, esperou-o à porta de casa, no regresso da escola.

O pai e o cinto da fivela de prata.

Nesse ano, ninguém comeu aquele maravilhoso fruto vermelho.

Vermelho, só o seu lombo. Das cinturadas do pai!

 

Texto inserido no Desafio da escrita

Palavra do dia 8: fruta

Seg | 08.10.18

Visitei o paraíso

Linda Evangelista costumava dizer que não se levantava da cama por menos de 10.000 dólares.

Pois eu, sou mais ou menos assim.

Não me levanto cedo a um feriado a menos que ganhe uma fortuna. 

Pode é não ser em dinheiro.

Pode ser só para ir ali ao paraíso e voltar!

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Se não reconheceram estas aves, eu explico:

são flamingos-rosa.

Lindos, numa paisagem de cortar a respiração.

(Vivam as caminhadas em trilhos quase secretos!)