A minha instrutora de aeróbica é muito preocupada com o grupo de mulherio que lá anda. A tal ponto que desconfio que começou a subverter as aulas para as transformar em defesa pessoal.
Nunca se sabe se numa qualquer esquina aqui do burgo, onde até mora a prima da prima e a comadre da tia, que está sempre à janela, uma marmanjão não nos tenta apanhar para roubar a carteirinha das moedas, que é o que a malta usa quando vai ao café.
Pois na última aula, a minha Maria lembrou-se de nos fazer simular murros. Ele era de cima para baixo, de lado, em direcção à orelha…a saltitar ao mesmo tempo… e eu…eu é mais peace and love…e fui-me apercebendo que mais parecia uma borboleta a bater as asinhas…
O entusiasmo que as pessoas de todas as gerações têm pelas séries, sobretudo da Netflix.
Há uns aninhos atrás, é esta ansiedade que Portugal inteiro sentia pela Gabriela, a primeira novela a que o país assistiu.
Com umas pequeninas diferenças, como é óbvio. Dantes, era muito melhor!
Se não visses o episódio do dia, morria um pedacinho de ti, porque jamais o voltarias a recuperar. Acho que foi nessa época que os portugueses descobriram a palavra pontualidade…
Depois os nervos, senhores…a gente ficava um dia inteiro para saber o beija, não beija…A vocês, basta clicar no episódio seguinte.
E o ecrã? Quase com tantas polegadas de profundidade como de diagonal.
Mas já era a cores. Ou melhor, tinha uma cor. A do papel celofane com que a tv estava forrada. Isso sim, era tecnologia de ponta!
E ninguém precisava de comentar os episódios nas redes sociais. Tínhamos a rede de vizinhança, com muito mais velocidade de informação e fibra.
Aliás, na minha rua, só eu é que tinha a magnífica televisão a cores.
De modo que todas as vizinhas, à hora da novela, me entravam pela casa adentro, ocupavam os seus lugares no meu sofá e comentavam o episódio em live streaming. Incluindo a mais velhinha, que sofria de incontinência urinária e que nos obrigava a desinfectar a maravilhosa napa cor de mármore no final do serão.
Da próxima vez que estiverem na caminha, de portátil no colo, a ver a série do momento, pensem no que estão a perder…
Voltando ao entusiasmo e à Gabriela, foi ali que surgiu a igualdade entre os sexos. É que os homens gostavam tanto (ou ainda mais) da novela do que as mulheres. Vá-se lá saber porquê.
Resta-me falar no culto. Agora vocês têm funkos e wallpapers no smartphone com o grafismo da série . O que é que é isso comparado com a nobreza dar o nome de uma personagem à própria filha?
Se conhecerem alguma Malvina com cerca de 40 anos…saibam que foi concebida minutos depois daquela frase tão sensual “Sapato não, sô Nacib”!