Hoje celebra-se o Dia Mundial da Poupança e eu encerro o tema que desenvolvi durante os últimos 30 dias.
Criar hábitos de poupança e de gestão do orçamento familiar é fulcral até para a nossa saúde. A instabilidade financeira é responsável por várias toneladas de anti-depressivos, de conflitos e violência doméstica e familiar...de suicídios e homicídios.
Mas, como em tudo, deverá imperar o equilíbrio.
O meu pai conta algumas vezes a história de um comerciante cá da terra, abastado para os padrões de pobreza do Alentejo de há 60 anos atrás.
Mas o dito comerciante (com um bom pé de meia no banco) teria algum tipo de distúrbio: julgava-se pobre.
E comportava-se como se não tivesse tusto, obrigando a família a viver quase na miséria.
Um dia, a mulher convenceu-o a fazer uma excursão ao norte, de alguns dias.
Ele lá foi, gemendo que não tinha dinheiro para o passeio.
E nesse mesmo dia, numa paragem que o autocarro fez, pegou na mulher e na filha, enfiaram-se num táxi e regressaram a casa, alegando que não podiam pagar tal despesa!
Consta que, quando morreu, deixou uma pequena fortuna, que nunca desfrutou.
Poupar é importante, sim.
Mas não pode ser um fim em si.
Deverá ser um meio para viver com tranquilidade e conseguir satisfazer sonhos sem por em causa o pagamento das despesas prioritárias.
Poupar para quê?
Quando há um motivo, existe um incentivo para compensar o nosso esforço.
E é esse motivo, seja ele qual for, que deverá prevalecer.
Para todos vós, que me acompanharam durante este mês, desejo-vos
Vício: prática de actos geralmente prejudiciais ou moralmente censuráveis; prática de actos geralmente prejudiciais ou moralmente censuráveis; mau hábito; costume condenável.
Há vícios para todos os gostos e carteiras.
Os típicos, toda a gente conhece e censura: as toxicodependências (incluindo o tabaco e álcool), o jogo, o sexo…
Mas há outros disfarçados e socialmente aceites mas que também “andam de candeias às avessas” com a poupança:
- as marcas de luxo;
- as saídas e jantaradas frequentes;
- a aquisição dos gadgets mais recentes;
- o pequeno-almoço fora de casa;
- o cafezinho…
Eu tenho o vício de comprar tecidos…se pudesse, trocava o ordenado por pano a metro… mas domino-o.
Não prescindo do meu vício do café a meio da manhã e da tarde: é uma questão de saúde física e mental e posso suportá-lo.
O meu “vício de viajar” está aprisionado. Não há dinheirinho que o sustente.
Mas quem me vai conhecendo, já sabe que adoro dar a volta às coisas e, portanto, proponho um exercício:
E se criarmos vícios bons, que promovam a poupança?
Tais como:
- comidinha saudável: vai promover o hábito da marmita e a sequente redução dos custos com alimentação fora de casa;
- colocar semanalmente uma nota num mealheiro: no final do ano, vai haver um dinheirinho extra para satisfazer um pequeno “vício”;
- comparar preços: se registássemos o que não gastamos ao optar pelo preço mais baixo, a surpresa seria grande;
- pesquisar cupões e descontos: válido apenas para o que realmente precisamos;
- anotar todas as despesas: depois de tomar consciência do destino do nosso dinheiro, será mais fácil elaborar um orçamento exequível e identificar as “gorduras” a eliminar.
Quem não tem dinheiro, pode ter vícios para poupar!
Em muitos países, a literacia financeira e o empreendedorismo aprendem-se na escola.
Mas, mais do que programa curricular, é uma questão de educação.
De socialização primária, atrevo-me a afirmar.
É em casa, com o núcleo familiar, que se aprende a dar uso e valor ao dinheiro.
Portanto, caros pais, avós, tios, encarregados de educação:
a forma como gerem o dinheiro está a influenciar as gerações futuras da vossa família!
Gostaria muito de dizer que também se aprende com os maus exemplos.
Porém, os casos que conheço evidenciam o contrário. Filhos a repetirem os erros dos pais, renovando o ciclo de dívidas, penhoras, insolvências...
Mas o que quero aqui partilhar são os bons exemplos.
E este, da Graça, quando surgiu num comentário ao post de dia 21, encaixou perfeitamente naquilo que queria transmitir:
Pouco antes de entrar na faculdade, ainda nem ninguém tinha computadores, o meu pai fez-me comprar um caderno pequeno para apontar tudo o que comprava com o dinheiro que me dava. No fim queria ver como é que eu tinha gasto o dinheiro. Fiquei a tremer, claro, mas fiz o que mandou. Quando acabei o caderno, após uns 3 ou 4 meses, entreguei-lhe o caderno e disse-me que não queria ver, apenas queria que eu tivesse noção de como se gasta dinheiro em pequenas coisas. Isto foi há 35 anos. Há uns anos atrás disse à minha filha para fazer o mesmo numa folhinha em Excel e é mais poupada do que eu. Esta lição resulta sempre.
Lá estão os ditados a remeterem-nos para o comportamento!
Em velocidade de cruzeiro (que não pretendo falar aqui de pobreza ou alterações inesperadas das condições económicas), é a maneira como gerimos os nossos recursos que nos permite poupar ou esbanjar o que recebemos.
Há tempos, contaram-me um episódio caricato, de uma pessoa tipicamente esbanjadora (se não o conhecesse, não teria acreditado):
Um fulano que vive de biscates (já foi funcionário público mas despediu-se porque ganhava pouco) recebeu duzentos e tal euros de um trabalho de pintura e foi directo para o café.
Depois de umas quantas cervejas, começou a pagar rodadas a toda a gente.
Acabou a noite a pedir dinheiro emprestado para pagar a conta, que o dinheiro que levava não chegou…
"Aos 26 anos, o então professor Warren Buffett, pegou nas suas poupanças e criou o seu próprio negócio. Em duas décadas tornou-se bilionário graças a investimentos acertados."
Fechem os olhos: o que retiraram das frases?
- O nome do homem, sobejamente conhecido como um dos mais ricos do mundo? Warren Buffet
- Bilionário? Em apenas 20 anos.
- Eu retirei isto: pegou nas suas poupanças...
Se Buffet não tivesse pensado em poupar, provavelmente não seria rico.
Mas é. E tem deixado vários conselhos aos investidores.
(Dado o adiantado da hora, este é um ditado 2 em 1!)
Estamos na contagem decrescente para o fim do ano.
Provavelmente, por esta altura, os planos de poupança não passaram de quimeras: nem a poupança semanal, nem o desafio das 52 semanas, nem as moedinhas do mealheiro...não se poupou nada?
E o frio já aperta e é necessário comprar peças quentinhas.
Já se lembraram de passar por uma loja de roupa em segunda mão?
Este conceito de poupança e "desperdício zero" começa a ganhar raízes e já prolifera no Instagram.
Pesquisem pela ashtag:
#roupasegundamao
Vão ver que se surpreendem.
Cá por casa, já temos várias peças e não nos arrependemos.