Tema: A Constança precisa duma mascara capilar mas o teu patrão só quer que vendas compotas de abobora com amêndoa. Convence-a a escolher a compota para usar
Terminar uma relação ou atravessar o fim do mundo é mais ou menos o mesmo. Não há vida para além disso.
E eu, depois de me separar do Rui, entreguei-me à eternidade da escuridão.
Do quarto.
Os meus avós, em desespero, tomaram uma decisão.
Fizeram-me a mala à pressa, enfiaram-me no carro e só pararam no destino: Alentejo!
Despejaram-me na casa dos meus padrinhos, numa pequena vila, já o sol estava posto e apenas se ouviam grilos e cigarras.
Nos dias seguintes, fiz longas caminhadas e na imensidão da planície, esvaziei-me. Uma manhã, qual girassol, virei-me para o Sol e reencontrei a luz da vida.
É a magia do Alentejo. Só entende quem lá vive.
Os meus padrinhos têm um comércio: uma regataria onde se vende de tudo. De um lado é café, gerido pelo padrinho. Passa-se a arcada de tijolo-burro e já estamos no mini-mercado da minha madrinha.
Fiz questão de ajudar e, um dia, ao arrumar as prateleiras, percebi que o prazo de validade do doce de abóbora com amêndoas, feito artesanalmente lá em casa, estava a expirar.
- Ai filha, temos de o vender! Coloca-o ao pé da caixa e impinge-o aos clientes.
A primeira cliente a entrar foi a Constança. Uma menina tola, filha do maior latifundiário da zona.
- Quero uma máscara capilar adaptada ao meu cabelo, por favor.
- Destas cheias de químicos e derivados de petróleo? Sabe, em Lisboa, já caíu em desuso: usamos produtos naturais, muito mais ricos em propriedades benéficas para a saúde.
O doce de abóbora com amêndoa, por exemplo, é o melhor: associa a hidratação potenciada pelas vitaminas E, B, A, o ácido fólico e a arginina das amêndoas à elevada concentração enzimática da abóbora. Os carotenóides e antioxidantes fazem milagres ao cabelo seco e quebradiço e há estudos que apontam que o uso de abóbora previne a calvície. Basta fazer uma máscara meia hora antes de lavar o cabelo.
Graças aos meus conhecimentos de saboaria, fui convincente.
- Careca não deverá ficar - pensei.
São onze da noite e ainda estou no alpendre.
Há duas horas que descasco abóboras para a madrinha fazer doce.
A Constança não só adorou como rapidamente se espalhou, pela vila e arredores, o milagre do doce de abóbora e amêndoa no cabelo.
Escoámos o stock.
Fizemos mais e esgotou.
Talvez hoje consiga surripiar um frasquinho para experimentar no meu cabelo…
O que têm em comum uns óculos, um estojo de lentes de contacto e uns comprimidos?
Poupança, meus amigos. Poupança - ou a falta dela!
Tive uns óculos de massa que usei quase uma década. Ainda os tenho mas, há cerca de dois anos, quando fui à revisão, aumentei um quarto de dioptria e decidi aligeirar o visual.
Comprei uns óculos quase invisíveis, sem aros.
Óculos:
Há um mês, a armação soltou-se de um dos lados e fui à óptica pedir que mos arranjassem porque tinha medo de fazer asneira.
Diagnóstico: o pino minúsculo que encaixa na lente partiu-se. Só comprando nova armação e aproveitar as lentes…
Os óculos têm menos de 2 anos…nem posso ainda pedir comparticipação da ADSE. Levei-os para casa, a pensar que poderiam ser soldados. Achei que não e colei-os com cola de contacto.
Ainda cá andam…provavelmente não duram muito mas voltarei a colá-los. E entretanto, marcarei consulta para confirmar as dioptrias.
Conselho nº 1: não comprem armações pouco resistentes.
Lentes:
Quando tenho tempo de manhã e durmo o suficiente para os olhos aguentarem as lentes, prefiro usá-las.
Costumava comprá-las na óptica mas descobri que as lojas online têm preços imbatíveis e por isso, faço uma encomenda anual de um kit com a solução líquida, por pouco mais do preço de uma caixa.
Cada frasco de solução oferece um estojo para guardar as lentes, o que é um desperdício.
Conselho 2: pesquisem preços mas em lojas fiáveis, para garantir a qualidade.
Comprimidos:
Foi-me diagnosticado um problema de saúde que requer vigilância.
Uma nuvem negra que irá pairar por muito tempo.
A médica sugeriu-me um suplemento alimentar, cujos estudos científicos estão a comprovar a eficácia: coriolus versicolor.
Inicialmente, tomei 12 por dia.
Agora tomo 6 por dia: 3 ao almoço e três ao jantar.
Com a azáfama, fico sempre na dúvida se os tomei ou não e achei melhor comprar uma caixa de comprimidos.
Eu disse comprar?
Para quê, se tenho estojos das lentes grátis e que jogo fora?
Digam lá se não encontrei a caixa perfeita:
Conselho nº 3: antes de comprar algo que acham que precisam, investiguem se não têm lá por casa algo que possa ser reutilizado ou transformado. Pode ser quase nada mas já é uma poupança.
Ah, e quanto ao suplemento alimentar:
É para tomar durante um ano e é caríssimo!
Já comentei que me saía mais barato pagar uma histerectomia do que os comprar.
E como não percebo muito do assunto, desafio o Triptofano para falar sobre o Coriolus Versicolor.
Cada vez que aplico este ditado, lembro-me da fábula da cigarra e da formiga.
E associo sempre àquelas pessoas que gastam mais do que ganham porque têm um suporte onde ir buscar uns tostões extra: aos pais, aos colegas que emprestam, a um adiantamento da empresa…ou ao crédito pessoal.
Esta engenharia financeira move-se em espiral e tende a criar uma força incontrolável.
Antes de se tornar cigarra, mais vale fazer um detox e depurar todos os gastos supérfluos que levam a mendigar no final do mês ou na véspera do débito do cartão de crédito.
Nada nos dá mais paz do que depender apenas do que temos e do que conseguimos poupar.
Até porque mendigar o alheio aniquila a nossa independência, cobra caro e, na maioria das vezes, destrói até as mais sólidas amizades.
Transposto para a economia doméstica: CUIDADO COM OS GASTOS PEQUENOS!
Regra geral, nós controlamos as despesas mais elevadas e fixas: a prestação/renda de casa, a água, gás e electricidade, o transporte…mas não fazemos contas às despesas insignificantes.
Passei anos a ouvir o meu marido perguntar-me no final de cada mês: MAS ONDE É QUE GASTÁMOS TANTO DINHEIRO?
E feitas as contas grandes, não conseguíamos descobrir para onde se tinha evadido boa parte do dinheiro.
Deixei de ouvir essa pergunta. Porque era retórica e não tinha resposta.
Mas desde há 3 anos que já tem: instalei uma APP onde aponto tudo o que gasto, desde a casa aos cafés.
Sei exactamente o que gasto e que peso têm as pequenas despesas.
E quais posso diminuir.
Uma delas foi o Centro Comercial.
Cada vez que lá íamos, mesmo para comprar um “solo” pack de cuecas, acabávamos por lanchar ou jantar.
E trazer mais uma coisinha ou quatro ou cinco.
Outro corte - pasme-se - foram as compras mensais de supermercado.
Podem resultar com muitas famílias mas não com a minha. Havia sempre exageros nos bens desnecessários, tais como bolachas, refrigerantes, refeições pré-confeccionadas, snacks…
São estas pequenas fendas que estavam a vazar o meu navio (bem, há outras maiores mas essas eu sei perfeitamente quais são)
Levantamo-nos de manhã e fazemos tudo pela mesma ordem. Mentira?
Já nem pensamos o que há a fazer. Está mecanizado.
Poupar pode ser um hábito como qualquer outro.
Diz-se que demoramos 21 dias a consolidar um hábito...depois disso torna-se rotina.
O exercício é simples:
1) Identificar que hábitos queremos assumir
2) decidir como praticá-los
3) Fazê-los deliberadamente
4) e passamos a realizá-los naturalmente, sem darmos por isso.
Eu não faço compras semanais sem consultar as promoções (tornou-se impensável);
Embora tenha falta de tempo, produzo o meu detergente para a roupa sem cair na tentação de ir comprar.
São apenas dois exemplos que provam que o hábito faz o poupadinho.
Até porque já aprendi que as crises são cíclicas e mais ano, menos ano, estaremos a sofrer nova contenção económica. Se até lá conseguir uma pequena almofada, não dormirei na pedra!