Confinados em casa, descobrimos que temos tempo e competências para "fazer" muitos produtos, em vez de os comprar.
Sem dar conta (e pelos motivos mais tristes), acho que estamos a diminuir a pegada ecológica relativamente ao consumo pessoal.
Por isso, é um bom momento para criar rotinas de fabricar artesanalmente e em casa, alguns produtos mais naturais, ecológicos e económicos.
Da próxima vez que esvaziarem algum frasco, pesquisem para descobrir se há alternativas caseiras. Talvez se surpreendam com o resultado. E evitarão, por certo, uma ida desnecessária ao supermercado.
Deixo aqui alguns exemplos possíveis. Alguns já faço há anos. Outros, vou experimentando agora, que passo mais tempo em casa.
E confesso: têm sido dias muito ocupados, com novas e experiências e prazer de ver "trabalho feito". Perdoem-me o egoísmo mas, na verdade, têm sido dias felizes.
PRODUTOS DE LIMPEZA
Detergente para máquina da roupa
Com sabão azul e branco (ou outro), poderão fazer detergente para máquina.
Encher o frasco com as cascas de laranja até 1/3 de sua capacidade. Aquecer o vinagre no fogão ou no micro-ondas e passar para o frasco, até encher . Fechar bem e conservar num local escuro e ventilado, no mínimo 48 horas. Quanto mais tempo macerar, mais perfumado fica. Coar e coloque num borrifador. Está pronto para o uso na limpeza geral da casa.
Limpa vidros caseiro:
Ingredientes:
- água
- vinagre
Modo de preparação:
Misturar água e vinagre em proporções iguais. Depois, adicionar à mistura umas gotas de limão ou de detergente líquido e guardar numa garrafa com pulverizador.
Para limpeza da pele, haverá produto mais natural do que a velhinha água das rosas? Ver receita aqui
Hidratante corporal:
Óleo de amêndoas doces é perfeito!
Mas o óleo de coco também serve para hidratar a pele, eventualmente com algumas gotas de óleo essencial adicionadas. Eu costumo colocar o boião na banheira, durante o banho, para amolecer o óleo e facilitar o uso.
Mas, caso tenham óleo de jojoba em casa, podem experimentar a receita do meu óleo corporal: aqui
PRODUTOS ALIMENTARES
Massa-mãe:
Porque o fermento químico está esgotado, esta receita é mesmo muuuito valiosa, se quiserem fazer pão caseiro. Ver aqui
Pão:
Há inúmeras boas receitas, basta pesquisar.
Esta é a que teve mais sucesso aqui em casa, por ser um verdadeiro pão alentejano.
Uma boa maneira de aproveitar os restos de maçã. A receita (muito fácil) está aqui.
Leguminosas:
Apenas uma dica simples:
Em vez de encherem a despensa com latas e frascos, comprem as leguminosas secas, cozam em grandes proporções e congelem (podem optar por conservar apenas em frascos esterilizados mas o processo pode ser mais arriscado).
Que este período de confinamento seja também de aprendizagem e de mudança de valores. Que saiamos de casa a respeitar ainda mais a Natureza e a poupar os seus recursos!
Com a escassez de fermento nos supermercados, atrevi-me a fazer folares com massa-mãe.
E ainda bem porque ficaram muito bons, com aquele sabor e textura do folar feito pelas nossas avós.
É preciso já ter A massa-mãe ( partilhei a receita aqui) e muuuuita paciência.
Afinal, todas as mães são chatas e com a mãe da massa não é diferente: o tempo de fermentação é muito mais longo e vão ter de esperar 6 a 7 horas para colocarem as bolinhas no forno.
Aqui fica a minha receita, adaptada para ser amassada na máquina de fazer pão:
Ingredientes:
- 2 dl de leite morno
- 1 dl de chá morno de ervas doces (fazer a infusão com sementes de ervas doces)
- 120 gr de açúcar
- 1 ovo
- 1 colher de sopa de aguardente
- 1 colher de sopa de aniz
(ou duas de aguardente ou 2 de aniz, como preferirem)
- 1 colher de chá de erva doce (eu coloco duas porque adoooro)
- 1 colher de chá de canela
- 1 colher de café de sal fino
- 25 gr de margarina
- 25 gr de banha de porco
(ou 50 gr de uma dessas gorduras)
- 600 gr de farinha de trigo sem fermento
- cerca de 150 gr de massa-mãe
- gema de ovo para pincelar
- ovos cozidos ( se quiserem colocar no meio do folar)
- farinha para "sovar"
Modo de preparação:
- Colocar os ingredientes pela ordem, na máquina de fazer pão;
- seleccionar o programa "massa";
- ao fim de 20 minutos, desligar e voltar a seleccionar o programa "massa";
- novamente ao fim de 20 minutos, desligar a máquina e retirar a massa para uma superfície enfarinhada ( a massa estará muito pegajosa mas é mesmo assim);
- sovar a massa até que se solte das mãos e da superfície sem agarrar, acrescentando a farinha necessária (para quem não sabe o que significa, podem ver este tutorial);
- ligar o forno, no mínimo, até se sentir o calor e desligar de imediato;
- transferir a massa para uma taça grande enfarinhada, cobrir com um pano, enrolar num cobertor ou toalha e guardar no forno ( a temperatura morna vai acelerar o processo de fermentação);
- ir espreitando para ver quando a massa terá dobrado de volume (deve demorar cerca de 6 a 7 horas);
- depois da massa fintada, retirar do forno e moldar bolas com as mãos enfarinhadas, tendo atenção que os folares irão crescer bastante durante a cozedura;
- colocar os ovos cozidos no centro do folar e decorar a gosto (opcional);
- pincelar com gema de ovo;
- Pré-aquecer o forno a à temperatura de 180/200º e colocar uma pequena taça com água (que vai manter a humidade no forno, evitando que a massa seque durante a cozedura);
- levar ao forno e quando a superfície do folar começar a escurecer (devido à gema de ovo), cobrir com uns pedaços de folha de alumínio, para evitar queimar.
- Quase no final, retirar o alumínio para que a crosta acabe de tostar e adquira a cor tão característica;
- retirar do forno quando o folar "ganhar sola": a parte de baixo estiver castanha e endurecida (mas não queimada!!!!)
Mais do que nunca, esta Páscoa deve ser de Esperança:
- que a saúde não nos falte;
- que os doentes recuperem;
- que saiamos do isolamento social renascidos para um mundo melhor!
Se não pode dar amêndoas, ovos de chocolate, folares, abraços e beijinhos, dê esperança. Numa mensagem ou telefonema, é um presente valioso que pode chegar a qualquer parte do mundo.
Tal como prometido, hoje dou-vos a minha receita de pão alentejano, feito com esse fermento artesanal.
Mas antes, deixem-me relatar as experiências que fiz até aqui chegar.
Já falei a decisão de comprar uma máquina de fazer pão para evitar sair de casa, rumo à padaria.
Fiz uns bons pães, seguindo as receitas que acompanhavam a máquina.
Ficaram bons, de facto.
Mas, para alentejanos que se prezem, aquilo sabe a pão industrial, que se compra no supermercado... faltava o aroma do panito a sair do forno de lenha... a côdea robusta e estaladiça...
Depois, a escassez de fermento seco levou-me a experimentar a massa-mãe.
E as experiências começaram.
Primeiro, fiz a receita do pão, seguindo o programa de pão normal da máquina:
Não ficou mal mas o pão não cresceu assim tanto e a côdea não atingiu o ponto ideal.
Depois, decidi usar a máquina apenas para amassar e levedar, no programa "massa" e cozer no forno.
Quando o programa terminou, retirei a massa, coloquei numa taça e deixei levedar cerca de 2 horas, envolta numa manta de sofá.
Por receio de deixar o pão cru por dentro, fiz duas bolas mais pequenas.
Ficou bem bom, mesmo misturando farinha integral.
Finalmente, atrevi-me a cozer um pão grande, também no forno e, desta vez, ficou perfeito:
A côdea crocante, a massa fofa e saborosa, como se exige de um bom pão artesanal!
Por isso, aqui vai a receita:
Pão alentejano na máquina de fazer pão
Ingredientes:
- 400 ml de água morna
- 2 colheres de sopa de azeite
- 2 colheres de chá de sal fino (mal cheias)
- 1 colher de sopa de açúcar
- 700 gr de farinha de trigo, tipo 55 (ou misturar cerca de 100 gr de farinha integral e 600 gr de branca)
Colocar os ingredientes na cuba da máquina pela ordem acima indicada ;
Programar a máquina no ciclo "Massa" (1.40 h);
Quando terminar, deixar repousar cerca de 1 hora (mais ou menos, dependendo da pressa);
Retirar a massa para a bancada e esticá-la ligeiramente. Depois, dobrá-la em 4, por duas ou 3 vezes;
Colocar a massa numa taça polvilhada com farinha, tapar com um pano e envolver num cobertor, para poupar tempo e acelerar a levedação;
Deixar repousar pelo menos duas horas, até a massa dobrar de volume;
Ligar o forno no máximo para aquecer, colocando um pequeno recipiente com água (que vai ajudar a que o pão não seque durante a cozedura);
Retirar a massa da taça e dar-lhe a forma e tamanho pretendidos, esticando um pouco para retirar as bolhas de ar;
Colocar num tabuleiro polvilhado de farinha e levar ao forno;
Baixar a temperatura do forno para 180/200º;
Retirar quando estiver a gosto (a cozedura depende do tamanho do pão, podendo variar entre os 30 e os 50 minutos, previsivelmente)
OBS:
O pão pode ser cozido na própria máquina, evidentemente.
Aí, aconselho a que não utilizem o programa completo.
Façam primeiro o programa "massa" e deixem repousar 2 a 3 horas. Só depois é que devem cozer, programando para 1 hora (se acharem que ainda não está bom, vão experimentando mais tempo, tendo o cuidado de fixar o tempo ideal para facilitar as próximas cozeduras).
Somos um grupo recente mas já aprendemos algo muito importante: O FERMENTO ESTÁ ESGOTADO!
Todavia, há males que vêm por bem.
Depois de muita pesquisa, encontrei a receita de fermento caseiro mais simples do mundo.
Experimentei.
Comprovei.
E agora, depois de testada, partilho.
Vamos a isto?
INGREDIENTES:
3 colheres de sopa de farinha trigo (branca ou integral)
2 colheres de sopa de água mineral.
MODO DE PREPARAÇÃO:
1º dia: colocar 3 colheres de farinha e 2 de água mineral (sem cloro) num recipiente de vidro e mexer bem. Tapar com um pano. Mexer várias vezes ao longo do dia para facilitar o início da fermentação.
2º ao 4º dia: juntar diariamente mais 3 colheres de farinha e 2 de água ao preparado inicial e mexer bem, tapando com um pano.
5º dia: retirar cerca de 50 gr para outro recipiente e guardar no frigorífico até nova utilização.
Utilizar a massa-mãe remanescente (pesa cerca de 150 gr) para fazer o pão.
Para utilizar novamente:
Colocar a massa-mãe guardada (50gr) num recipiente maior e juntar 80 gr de farinha de trigo e 100 ml de água mineral. Mexer bem, cobrir com um pano e deixar levedar entre 8 a 12 h (eu preparo na noite anterior para utilizar no dia seguinte).
No momento de preparar o pão, voltar a retirar 50 gr de massa mãe e guardar no frigorífico, repetindo os mesmos passos.
DICAS:
- Quando faço pão em dias consecutivos, não coloco a massa-mãe no frigorífico.
- Não vale a pena contrariar a natureza: como qualquer produto artesanal, é preciso tempo e paciência. Por isso, para fazer um bom pão, é necessário deixar a massa do pão levedar algumas horas, antes de o cozer.
Mas disso, falarei amanhã, quando partilhar a minha receita do pão alentejano…
Têm sido um sucesso cá em casa e também no meu Instagram e Facebook (a propósito, já seguem?)
Por isso, a pedido de várias famílias, aqui fica a receita que uso e abuso:
Ingredientes:
- 250 ml de leite à temperatura ambiente
- 1 colher de chá de sal (mal cheia)
- 50 g de manteiga derretida
- 50 g de açúcar
- 1 gema
- 500 g de farinha tipo 55
- 1 saqueta de fermento de padeiro (7 gr)
- 1 ovo batido para pincelar
Modo de preparação:
Colocar os ingredientes pela ordem da receita, na cuba da máquina.
Seleccionar o programa “massa” (que durará cerca de 1.40h).
Quando terminar, fazer pequenas bolinhas e esticar as pontas para dar o formato do pão de leite e ir colocando num tabuleiro polvilhado com farinha (os pãezinhos devem ficar espaçados porque ainda vão dobrar de tamanho).
Cobrir o tabuleiro com um pano ou manta e deixar repousar cerca de 1 hora.
De seguida, ligar o forno no máximo, para aquecer.
Entretanto, pincelam-se os pães de leite com ovo mexido (mexer com uma colher para não criar bolhas de ar).
Baixar a temperatura do forno para 180/200º e colocar o tabuleiro no forno.
Os pãezinhos cozem em cerca de 20 minutos e depois…
Mantra para repetir 10 vezes antes de entrar no supermercado...
Quem diria que comprar comida iria equivaler a entrar num campo de guerra: com fardamento apropriado, munições (desinfectante) e mal me mexer para não rebentar uma mina.
Ando a adiar a ida ao supermercado há 3 dias.
A última vez que lá fui, foi tão penoso que cheguei ao fim do dia em estado de exaustão.