Sabem aqueles azeites aromatizados, gourmet e caríssimos?
Aqueles que dão um sabor inesquecível a alguns pratos?
São tão fáceis de fazer!
Há dias, reabastecemos os frascos, aqui em casa.
Basta colocar num frasco (reutilizado, de preferência) alguns dentes de alho, ramos de alecrim e encher com azeite. Deixar macerar alguns dias para o azeite incorporar o sabor e já está! Podem ser usadas outras ervas a gosto, como orégãos, rosmaninho, tomilho .... Uma boa sugestão de presente para apreciadores. Eu tenho o privilégio de conseguir fazê-lo a custo zero: tenho azeite, alhos na horta e alecrim no jardim.
Este, aromatizado com alho e alecrim, foi oferecido como presente de aniversário.
No Domingo, quis fazer pão integral, com farinha pré-preparada.
A receita foi a de sempre: metade farinha pré-preparada, metade farinha normal e água.
Porém, inexplicavelmente, a massa não levedou.
Ao cuscar o pão, já a meio da cozedura, reparei que aquilo estava pronto para servir de oferenda às galinhas.
Deixei na máquina, para arrefecer.
Quando me preparava para a retirar, o fantasminha do desperdício zero, disse-me:
- Mas ó menina, isso não dá mesmo para aproveitar?
Vai daí, o espírito da poupança respondeu:
- Ai dá sim! Experimenta tender para transformar em bases de pizza.
E eu experimentei.
Fiz 3 bases e reservei no frigorífico.
Ontem, descongelei o molho de tomate que havia preparado há umas semanas atrás.
Coloquei tomate-cherry e pimento da horta dos pais e azeitonas do sogro. Salpiquei com orégãos colhidos por um amigo e queijo (infelizmente, este foi comprado).
O pão quis ser pizza e salvou-se do lixo para o prato.
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Já partilhei a minha paixão pela saboaria e pela produção de produtos naturais.
O que não revelei, é que andava a adiar a arrumação do sabão, que ainda estava espalhado pelas prateleiras da cura.
Como sabem, nesta casa tudo se aproveita.
Por isso, as aparas e as sobras do sabão que ficam agarradas ao papel vegetal não se desperdiçam.
Retiro-as cuidadosamente do papel (o que não é difícil), guardo-as numa caixa e vou enchendo um pequeno saco de algodão, o qual uso no banho.
O saco "vira" esponja ensaboada e só preciso de ter o cuidado de o espremer no final do banho e pendurar, para que seque (e evite a eventual reprodução de bactérias).
Acho que não necessito de explicar a suavidade de um sabão natural a deslizar na nossa pele... nem a envolvência dos aromas dos óleos essenciais...
Espero que esta carta chegue ao destino para que percebas que não fugi.
Uma destas noites, depois das alarmantes notícias do telejornal, consegui convencer os meus avós a fazer o confinamento na nossa pequena aldeia.
Sei que havia prometido nunca voltar mas é mais seguro estar aqui e eu quero muito protegê-los. São o meu bem mais precioso e os dois alicerces que me seguram à vida.
Infelizmente, aqui não há rede de internet nem da minha operadora de telemóvel.
Tenho relembrado as nossas longas conversas.
Embora não queira, penso em ti.
Ninguém consegue contrariar o coração.
Todavia, o meu medo é avassalador.
Sei que nunca serás feliz a meu lado.
É impossível remar dentro de um barco naufragado!
Sabes aquela árvore de que tanto te falei?
Escrevo-te à sua sombra. É para aqui que volto sempre que me perco.
Ela chama por mim. Um destes dias, volto a subir.
E eu, que jurara nunca mais cá voltar!
Esquece-me Pontinha. Eu fico bem!
Mas eu já me decidira mesmo antes de ler a carta.
Meti um pequeno saco dentro do carro, despedi-me com um “volto em breve, não se preocupem” e ainda consegui ouvir os gritos da minha mãe:
- Mas onde vais? Está tudo fechado…olh’ó COVID!!!
Duas horas depois, a temperatura dolente do Alentejo avisava-me que estava perto.
Sem GPS nunca chegaria à aldeia. O caminho desnudado esconde-se entre trigais e onde alguns veriam palha seca, eu vi o ouro reluzente que me conduziria ao tesouro.
Parei por imposição do GPS, que me mostrou que aquele portão pintado de azul era o meu destino.
O carro quebrou o silêncio da aldeia em confinamento e duas cabeças se assomaram à janela.
Reconheceram-me e com ar surpreso mas um enorme sorriso, vieram ao portão.
- Sr. Enfermeiro, por aqui?
Após um cumprimento telegráfico, perguntei:
- Onde está a vossa neta?
- Foi à horta buscar umas verduras para a sopa. Não se deve demorar pois já abalou há tanto tempo.
- E onde é a horta?
- Vê aquela azinhaga? É conhecida pela Azinhaga das Onze Voltas. Onze curvas, como se diz na cidade. A horta fica na nona. Vá até lá que a menina vai ficar contente. Sabe, voltou a piorar.
- Meti-me no carro. Primeira volta, contei. Faltam oito!
O coração disparou, empurrando-me como uma seta para o alvo.
Reconheci a horta pela enorme árvore que ela me descrevera.
O açude, quase seco, espelhava uma figura estranha pendurada em cima da árvore.