Chegara até aqui sem nunca perceber como é que o tempo se media. Os homens, que o domaram em horas, dias e anos, ainda não arranjaram uma única medida para que uma hora seja apenas uma hora. Para uns, é tempo que voa. Para outros, uma verdadeira eternidade. O que é certo é que agora, velhinho, assentiu que o seu tempo estava prestes a terminar. Viveu a querer ser rei. Importante, inesquecível, deslumbrado com a fama. Estava certo de que, doravante, geração alguma haveria (...)
Tema: Vou ali e já venho Quando tive coragem de reabrir os olhos, fixei o vulto e confirmei que não era miragem. Aquele corpo magro e combalido pelo peso da depressão, estava em cima de um ramo do enorme salgueiro. Aproximei-me um pouco. Sei, por formação profissional, que não nos devemos aproximar demasiado dos suicidas. Sorri-lhe. E ela, entre lágrimas, também sorriu. - Onde pensas que vais? – Perguntei docemente. - Vou ali e já venho. É este o meu caminho. É este o meu (...)
Tema: Mais oito Pontinha Espero que esta carta chegue ao destino para que percebas que não fugi. Uma destas noites, depois das alarmantes notícias do telejornal, consegui convencer os meus avós a fazer o confinamento na nossa pequena aldeia. Sei que havia prometido nunca voltar mas é mais seguro estar aqui e eu quero muito protegê-los. São o meu bem mais precioso e os dois alicerces que me seguram à vida. Infelizmente, aqui não há rede de internet nem da minha (...)
Tema da semana: Cada um come onde quer e repete se quiser!
A 3ª face
O que começou como uma leve caminhada, terminou em sprint final, para voltar a casa e ler a carta. Verifiquei em cima do móvel de entrada, nas gavetas, na bancada da cozinha, onde se acumulam os perdidos e achados cá de casa. Nada! Fui espreitar a minha mãe mas ainda nem se avistava na linha do horizonte. Porque não lhe perguntei onde guardara a carta, antes de começar a correr? Agora teria que esperar… Nisto, o meu pai entra na cozinha e fica espantado por me (...)
As olheiras de Pontinha são um mapa dos seus sentimentos. Não são só sombras de exaustão. Há também ali um mar de desilusão. A pandemia interrompeu-lhe o que poderia ter sido uma bonita história de amor, com a sua paciente preferida. Uma doença coloca-a no seu caminho. Agora, parece que uma outra a retirou, fazendo-o desconfiar que não passou de um sonho bom. Nos primeiros dias do Estado de Emergência, Pontinha teve a responsabilidade de organizar a (...)
"Amanhã, Pontinha entrará no retiro profissional, sem saber quando tudo terminará." Foi assim que terminou o texto da 8ª semana do Desafio dos Pássaros. Soou a previsão, numa altura é que ainda não suspeitava que a vida dá voltas e por vezes, encurta o tempo e a vontade de escrever. A história do Pontinha ficou suspensa. Mas eu não sou mulher de deixar coisas por terminar, mesmo que (...)
Tema da semana: Foi tão bom, não foi Pontinha é enfermeiro, como já sabem. Pontinha está apaixonado por uma paciente que, entretanto, já teve alta. Durante aqueles dias, foi tão bom, não foi? Subitamente, no meio deste rodopio de emoções, o Mundo mudou. Mas isso, já todos percebemos. O Serviço onde o Sr. Enfermeiro Pontes Manuel trabalha, foi reconvertido. Era a Unidade de Psiquiatria mas como alguns loucos estão fechados em casa e os casos mais graves passeiam-se (...)
Tema da semana: Escreve o teu elogio fúnebre Tenho tratado a minha Bela Adormecida como um pássaro dentro de uma gaiola dourada. Vou induzindo os médicos em erro, ao afirmar que ainda há risco se tiver alta. Pura mentira! Só não quero que saia para sempre da minha vida. Não tenho esse direito, eu sei. Hoje, saí de casa decidido a aprisionar o meu egoísmo em vez da minha amada. Na reunião de início do turno, dei o meu parecer favorável à alta e o médico concordou. (...)
Ela acordou e de imediato olhou para o relógio. Apesar de ser Domingo, havia tanto para fazer que não poderia dar descanso ao corpo. Preparou o pequeno-almoço para o filho, enquanto separava as roupas para lavar. Recolheu a roupa suja do marido, espalhada pelo chão do quarto. Lavou e estendeu. Limpou e varreu, sem usar o aspirador que o seu homem ainda estava a dormir. Tratou do almoço. Deu a comida ao filho e arrumou a cozinha. Vestiu-se e foi fazer as compras da semana. Assim (...)
Tema da semana: Oh não, um vírus outra vez! - O que queres ser, quando fores grande, Pontinha? Eis a pergunta que mais ouvi desde a Primária. - Quero ser marido de uma velha rica! Esta resposta foi-me ensinada pelo tio Dino, quando me queixei do desconforto de responder a tal questão. Sabia lá eu o que queria ser! Mais importante era saber quando me nasceria o bigode e o pêlo das pernas… Então o Dinão, com a sabedoria de quem conhecia o mundo através de uma (...)