A difícil arte de abdicar
Abdicar é uma simples acção que implica decidir. Deixar ir. Deixar cair. Virar as costas e seguir.
Quando abdicamos daquilo que nos destrói, sabemos precisamente o que eliminar.
Quando rompemos com aquilo que nos consome e nos desgasta, temos bem identificado o que queremos perder.
Mas… e quando sentimos que temos de abdicar daquilo que gostamos? Como escolher, de entre tudo aquilo que nos faz feliz, o que deixar pelo caminho?
Pois é assim que me sinto. Levo pela estrada da vida demasiada bagagem. Quero percorrer vários caminhos em simultâneo.
E não posso.
Tenho de decidir. Não as paisagens que quero ver, mas aquelas que não irei contemplar.
Tornar a vida menos colorida e deixar de me sentir um arco-íris.
Porque correr por várias estradas não me permite desfrutar o caminho.
E misturar cores não me permite definir os tons.
Soa mal, eu sei. Mas tenho demasiadas coisas que me tornam feliz.
Se tudo fosse tão fácil como optar entre verniz nas unhas ou cola quente nos dedos!
Mas para me perder entre costuras não posso estar a escrever.
Para escrever no blog, não consigo concentrar-me para participar em passatempos que exigem escrita criativa.
E estes são actos solitários, tempos em que me isolo da família…
E o livro que quero ler fica ali, a ver-me dormir!
Abdicar não é uma decisão.
Também não é ciência teórico-prática.
Abdicar é uma arte. E como tal, é subjectiva. Depende do estado de espírito, no momento em que nos debruçamos sobre ela.
Pelo que, até agora, ainda não me consegui decidir!