A minha casa
Muitas pessoas ainda hoje me perguntam se não tenho medo de viver num local isolado.
Eu até tenho vizinhos mas estão a umas dezenas de metros de distância. E a casa fica por cima da cidade, com uma vista soberba.
O sol todos os dias se despede de mim. Pena que às vezes o ignoro.
Mas não foi a vista que me levou a viver aqui.
Na verdade, quando decidi construir uma casa, foi a opção mais assertiva. O terreno era herança de família. O que poupei deu para concretizar um outro sonho: dar uma casa condigna aos meus pais.
Coisa que nunca tiveram.
E o privilégio de viver sem incomodar ou ser incomodado pelos outros não tem preço.
Durante anos, o meu filho viveu com uma bola nos pés. Literalmente.
Existia uma bola em cada divisão e ele andava pela casa a pontapeá-las.
De dia e de noite.
Um passo, um chuto.
Tau. Tau. Tau.
Imaginam-se a viver num piso abaixo do meu?
Esta terra foi pisada pelos meus avós e bisavós. Foram eles que plantaram muitas das árvores que aqui existem ou que cuidaram das oliveiras centenárias que me rodeiam. Foi onde o meu pai cresceu e onde eu guardo boas recordações da minha infância.
É um lugar feliz e talvez os meus antepassados ainda por aqui andem a zelar pela família. Porque eu, de facto, sinto-me protegida.
Tranquila.
E a nossa casa é aquele lugar onde o coração encontra a paz!