A vida é um talego
Ao fim de umas décadas, percebes que não passas de uma gaveta cheia de retalhos, uns mais coloridos e estampados, outros mais escuros e discretos.
Não "aventes" * nenhum! Fazem todos parte de ti.
Conjuga-os de acordo com o teu gosto pessoal porque de quantos mais retalhos fores feita, mais possibilidades de os conjugar terás.
A tua vida a ti pertence e para costurar o teu talego, não peças opinião alheia pois ninguém colocará os retalhos da mesma maneira.
Alterna-os para que contrastem e te apercebas que és feita de pedacinhos tristes e risonhos, sombrios e garridos.
Depois, com a paciência de quem já sabe que viver é um constante andar para a frente e para trás, vai cosendo os retalhos até terminares a obra.
Coloca-lhe um cordão, enche-o de vontade de viver e aperta-o.
Até sabes que um saco de um só tecido é bem mais simples e serve para a mesma coisa.
Mas tu... tu és feita de retalhos. E tens de os arrumar para seguir em frente.
Então, faz da vida um bonito talego!
* aventar: jogar fora, em alentejanês