Acho que sofro de envelhecimento invertido

Sempre me disseram que envelhecer respeitava a lei da gravidade.Começava no topo, com o cabelo a esbranquiçar e, com o tempo, tudo nos ia descaindo: as pálpebras, o queixo, as mamocas, a barriga, as pregas à volta do joelho…
Pois eu ando deveras preocupada.
Começo a pensar que sofro de síndrome de envelhecimento invertido.
É um facto. Comecei a envelhecer contrariando a lei da gravidade.
Dos pés para a cabeça.
Primeiro, envelheceram os pés. Perderam a paciência para os stilettos e botas pontiagudas e começaram a exigir coisitas mais confortáveis.
Depois, os pelinhos do tornozelo à barriga (quase todos), foram progressivamente fugindo da velhice.
Talvez por cansaço, fixaram residência no queixo e, por mais que eu os tente despejar coercivamente, de lá não saem.
A seguir, comecei a reparar nalgumas veias menos envergonhadas, que teimavam em sobressair entre a celulite. Algumas ramificavam-se, da cor do clube inimigo (desculpem-me lá benfiquistas).
Não tardou a p..@ da dor na perna esquerda. Alguns exames médicos convenceram o médico a querer esburacar-me para tirar uma safena. Ando a adiar mas terei que lá ir.
Agora, o peso da idade começa a esconder-me os abdominais “Patrocínio” (se quiserem imaginá-los procurem o Insta da Carolina Patrocínio).
Por vezes, quando limpo o espelho embaciado após o banho, surpreendo-me com a desenvergonhada da papadinha que o espelho memorizou na memória RAM.
E isto está a alastrar para a cabeça. De vez em quando, ao pentear-me, há alguns fios que querem brilhar mais do que as estrelas.
Envelhecer também pode ser isto:
- assumir algumas perdas
- conformar-nos com alguns ganhos
- enfrentar os medos com humor
- nunca desistir de aprender e de sonhar
- Desfrutar da VIDA tirando partido de tudo o que já aprendemos.
Nota: Com excepção dos abdominais Patrocínio (que nunca tive), tudo o resto é pura verdadinha.

