Agradecer também pode ser um acto de egoísmo
Quatro meses.
Há quatro meses que não escrevo e que raramente leio o que corre por aqui.
Sequei as palavras com a mesma geada que se faz sentir por estes dias.
Fiz Primavera por outros lados e pensei em não voltar. Tornar passado este pequeno blog e abandonar o lugar onde me senti tão feliz.
Todavia, de quando em vez, ia recebendo e-emails de pessoas que não conheço mas que me enchiam o coração de luz (na verdade, quem se preocupa com a nossa ausência, que pergunta pelas nossas dores e nos pede para reaparecer, não são desconhecidos, pois não?)
E por estes dias, depois de arrumadas as agulhas, tecidos, sabões e gessos perfumados a que me tenho dedicado intensamente nos últimos meses, ela assolou-me...
...a enorme e incontrolável vontade de soltar palavras!
Essas, que se escondem, que amordaço quando prefiro não dizer o que sinto...que espalmo com outras prioridades...
E aqui voltei para agradecer por este ano.
Enquanto o mundo desabou lá fora, amuralhei-me: nenhum dos meus adoeceu, nada nos aconteceu, domei o tempo graças ao horário de trabalho reduzido e apesar dos mercadinhos de artesanato não terem acontecido, os meus hobbies renderam mais do que o esperado (à custa de trabalhos inimagináveis, tais como máscaras, bolsas para máscaras, porta-géis...)
Quando revisito os meus objectivos de poupança de há um ano (aqui), verifico que foram superados: há séculos que não tinha a conta bancária com saldo positivo, as poupanças foram superadas e o orçamento cumprido escrupulosamente.
Tanto que aprendi nestes meses!
Aprendi a dispensar o que nada me acrescenta, a valorizar ainda mais os pequenos milagres da vida, a sorrir por ver um pão crescer no forno.
Encontrei paz depois de saltar abismos.
Enquanto o tal mundo desabou lá fora e muitas famílias foram colhidas pela morte, doença, desemprego, ruína nos negócios... eu sinto-me egoísta.
Agradecer, no final de 2020, é puro acto de egoísmo.
Ainda assim, eu atrevo-me: obrigada por tudo o que ganhei. E sobretudo, obrigada por tudo o que perdi!
E obrigada pelo carinho de tanto vós, que me impeliu a voltar aqui.
Até já!