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A 3ª face

Seg | 06.08.18

Como se vive numa das terras mais quentes de Portugal

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Conhecem a anedota do Alentejano que morreu e chegou ao Inferno, de capote vestido?

 

Sentou-se calmamente e por ali ficou.

O Diabo, surpreendido por não o ouvir reclamar do calor, aumentou ainda mais a temperatura.

O Alentejano, calmamente, tirou o lenço vermelho que trazia ao pescoço e por ali ficou.

O Diabo, ao vê-lo impávido e sereno, tornou o inferno ainda mais quente.

O Alentejano, sentido o calor aumentar, pegou no lenço vermelho e levou-o à testa, para limpar o suor e por ali ficou.

O Diabo, já irritado, tornou o Inferno ainda mais quente.

Aí, o Alentejano desabotoou o botão do colarinho, ajeitou o capote e por ali ficou. Porém, mostrou uma cara preocupada.

O Diabo, ao ver esse aspecto consternado, não resistiu e foi ter com o Alentejano, com ar zombeteiro:

- Então compadre, parece preocupado. Não se sente bem?

- Por acaso, tô cá cismando com uma coisita -respondeu o Alentejano.

- E o que é, compadre, não gosta da temperatura do Inferno?

- Pois é mêmo isso. Está quentinho e eu tô preocupado... se isso está assim aqui, tô imaginando como é que nã tará lá em Beja!

 

O Alentejo conhece o calor extremo todos os anos. Mais grau, menos grau, há dias em que não se consegue sair à rua.

Como estes últimos três dias, em que nem a noite nos arrefece.

Uma família alentejana sabe que não pode abrir janelas nem portadas durante o dia. Vive-se na penumbra.

Eu sei e assim faço.

A nossa famosa lentidão é o segredo para sobreviver acima dos 40º. Movimentos bruscos aumentam o ritmo cardíaco e a temperatura corporal e nós precisamos é de manter o corpito fresco.

Por isso, acordamos mais cedo para fazer o essencial e depois reduzimos a actividade ao mínimo.

Alimentamo-nos de gaspachos frescos e muita melancia.

Os animais também são família e ficam  cá dentro.

 

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Todos dormitamos, que é assim que se luta contra o calor infernal.

Ao anoitecer, estendemos a roupa e antes de dormir estará pronta para ser apanhada.

Há-de acumular-se junto à tábua, à espera de dias mais frescos.

E vamos esperando que passe o "calmêro".

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Enquanto isso, agradecemos. Por não vermos as nossas árvores propagar a fúria do fogo que alastra noutros pontos do país.

O calor há-de passar e voltar. Faz parte da vida, como as searas de trigo.

As tragédias, essas é que não!

 

 

 

 

 

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