Desafio da escrita - dia 10: peluche
A ideia romântica que temos de um sótão é a de um lugar mágico, cheio de teias de aranha e tesouros escondidos em baús.
Pois eu tenho um sótão grande, com três divisões. Tem teias de aranha, às vezes. Mas, em vez de baús, tem muitas caixas de papelão e muita tralha desarrumada.
Ora, desde há duas semanas que eu e o meu marido andamos a tentar arrumá-lo. Começámos pelo meu atelier de costura, como expliquei aqui.
Ele continua a fazer prateleiras de arrumação. Tirou tudo do sítio.
O sótão é o albergue dos peluches dos meus filhos. Neste momento, para onde me viro, vejo-os por todo o lado.
De todos os tamanhos (há um elefante do meu tamanho), cores e feitios…
E eu.
Eu, em criança, apenas tive dois peluches.
Uma pantera cor-de-rosa que enfeitava uma cadeira.
E um coelho-bebé azul, com pilhas, que dizia mamã.
O coelho azul devia ser muito valioso.
Acho que a minha mãe tinha medo que eu o estragasse (não sei porquê, a única coisa que estraguei na minha infância foi o olho de um boneco que, acidentalmente recuou e o deixou zarolho. O que eu chorei, meu Deus) e o coelho passou a vida dentro da caixa, em cima do guarda-fato.
Ainda me lembro de estar na cama e contemplá-lo, a brincar com ele na minha imaginação.
Agora que penso nisso, acho que tenho a tendência para fazer da vida aquele coelho. Ficar parada a contemplá-la, com medo de a estragar.
Triste ideia.
A da minha mãe.
O coelho foi herdado por uma prima ainda dentro da embalagem. Deve ter sobrevivido uma semana.
E triste ideia a minha.
De que me serve a vida dentro de uma caixa? A vida é para ser agarrada, sorvida, aproveitada.
E mesmo que a esfrangalhe de vez em quando, haverá sempre forma de a remendar. Como um peluche.
Assim como assim, ela é só minha e ninguém a conseguirá herdar.