Desafio da escrita - dia 16: escritório
A primeira casa que tive foi um apartamento pequenino num terceiro andar sem elevador.
Tudo correu bem até a minha filha nascer.
O quarto onde tinha a secretária e os livros foi ocupado pela mobília da princesa.
E subir com uma criança ao colo, mais o carrinho e os sacos até um terceiro andar, tornou-se um suplício.
Foi na altura do boom da auto-construção, da quase universalidade do crédito à habitação e aproveitei um terreno de família para construir uma casa de verdade.
Com espaço, com terreno à volta, com traça alentejana. A tradicional barra azul.
Na verdade, o edifício tem duas habitações. A minha e a dos meus pais.
Que cumpri o sonho de lhes dar uma casa de verdade, com todas as condições. Coisa que nunca tiveram.
A minha é maior, pois claro. Com dois pisos.
No piso de cima, fica o quarto dos hóspedes, uma casa de banho e o escritório com uma área generosa. Mais um sonho realizado.
O quarto (que entretanto foi ocupado pela minha filha) e o escritório têm janelas de sacada, que se abrem para um terraço com uma vista privilegiada sobre a cidade.
Se tivesse tempo, poderia assistir todos os dias ao por do sol, àquela hora mágica em que os raios de fogo se espelham na água do rio até só restar a silhueta sombria do casario.
Outro sonho realizado.
Num recanto do escritório, existe mais um compartimento pequeno. Quem entra não se apercebe porque uma estante tapa a visão da porta.
Mudei-me para essa casa já grávida do segundo filho. A mais velha tinha então 5 anos e fazia questão de ser ela a mostrar a casa às visitas que lá iam pela primeira vez.
O quarto dela, o dos pais, o do mano que iria nascer…
No primeiro andar, quando os visitantes se encontravam no escritório, levava-os para o canto onde estava a tal porta meio escondida e dizia:
- E ête é o squitório da minha mãe.
E abria ainda mais os enormes olhos azuis para observar a reacção das pessoas quando se deparavam com a tábua de passar a ferro!
É que outro dos meus sonhos foi ter um espaço reservado para engomar, com a tábua sempre pronta a entrar ao serviço, em caso de emergência.
Às vezes, quando lá entro com uma braçada de roupa, ainda lhe oiço a vozinha matreira a apresentar a casinha de passar a ferro.
Texto inserido no Desafio da escrita
Palavra do dia 16: escritório