Desafio da escrita - dia 3 : dentes
Hoje não vou inventar histórias.
A palavra do dia é-me muito cara (literalmente) e leva-me a um post de Agosto do ano passado e que não resisto em republicar:
Nunca achei piada ao ritual da Fada dos Dentes. Da notinha debaixo da almofada ou de atirar o dente para o telhado e gritar: “Dentinho, dentão, toma lá um podre, dá cá um são” (as pessoas da minha geração sabem do que estou a falar).
Fiz mal.
Razão tinha a minha mãe em venerar a dita Fada, ao ponto de pegar no primeiro dente de leite que me caiu e ir entregar ao ourives cá da terra. Dias depois, ofereceu-me, toda orgulhosa, uma medalha. Ou melhor, o meu dente atarrachado num aro de ouro e que eu usei ao pescoço durante alguns anos (as pessoas da minha geração sabem do que estou a falar).
Sim, era nojento (mas era moda) e acho que condicionou a minha má relação com a Fada.
Com os meus filhos, apenas me limitei a guardar os dentinhos que caíam, sem homenagens ou manifestações de devoção (hoje em dia, já nem sei quais são de quem).
Mas a minha filha, aos 11 anos, tropeçou nos cordões das botas, caiu e partiu um dente da frente. Mais tarde, verificou-se que para além de um dente torto, a menina tinha má mastigação e foi um passo até começar a usar aparelho extra-oral, depois o aparelho de brackets, a rotina das consultas mensais, a contenção ortodôntica.
O meu filho mais novo mudou a dentição de forma estranha e o RX veio revelar que tem “agenesia dentária” , razão pela qual não tem 2 dentes definitivos à frente. Há dois anos que usa aparelho extra-oral e preparamo-nos para passar às brackets, muito em breve. Há-de-lhe ser criado um espaço para, mais tarde, colocar um implante (que vai fingir que é o dente que nunca lhe irá nascer).
Na semana passada, tivemos consulta no dentista. Dizem-me agora que a minha filha não tem espaço para os dentes do siso, que vão estragar o trabalho de ortodontia, que vão provocar cáries, que é melhor extrair…
Sim, continuo a acreditar que a Fada dos Dentes não existe. Ela é uma bruxa mercenária a soldo, que passa recibos verdes ao nosso dentista e que continuará a furar-me a conta bancária para o resto da vida.
Texto inserido no Desafio da escrita
Palavra do dia 3: dentes