Desafio da escrita - dia 4: livro
Chamavam-lhe “o Dótor”, alcunha que ganhara nos tempos de escola.
Os livros eram o seu fascínio e andava sempre com um debaixo do braço.
Sempre. Desde que se levantava até que se deitava.
Pena que nunca conseguira aprender a ler.
Os 8 anos em que andou na Primária, e apesar do esforço das professoras, foram inúteis nessa área.
Os médicos concluíram que tinha um atraso mental.
Anos mais tarde, perante a insistência da mãe, que jurava que o filho era bastante inteligente e só não conseguia ler, deram-lhe um diagnóstico elegante e que a convenceu: Síndrome de Asperger.
Mas, mesmo sem ler, amava livros.
Enquanto criança, insistia para que a mãe lhe lesse diariamente os seus predilectos.
Decorou as histórias, página a página e quem não o conhecia, nem desconfiava que era analfabeto.
Mais tarde, percebeu que, quando a professora pedia à turma o resumo de um livro, cada qual narrava uma história diferente. E concluiu que o importante não é o que está escrito mas o que guardamos dentro de nós.
E aprendeu a ler.
A única diferença é que, ao invés dos leitores comuns, as histórias que lia soltavam-se da sua cabeça e cravavam-se nas letras dos livros.
E todas começavam assim:
“ Era uma vez um homem que sabia ler…”
Texto inserido no Desafio da escrita
Palavra do dia 4: livro