Desafio da escrita - dia 9: branco
Adiantou o almoço para os 8 filhos, que quando voltasse possivelmente já era hora da janta.
O marido acabara de martelar os últimos pregos.
Chamou os filhos e, à volta da cama, rezaram um Pai Nosso e fizeram o Sinal da Cruz.
Depois, o seu homem e os filhos mais velhos, colocaram a avó dentro do caixão improvisado e carregaram-no para cima da carroça.
Saiu à porta do monte, preparada para a jornada.
O calor alentejano já se fazia sentir. Tinha 10 quilómetros para fazer.
Antes de subir para a carroça do feitor, a quem pedira ajuda para levar a mãe a enterrar no cemitério da vila, colheu um lírio branco.
A carroça, puxada por 2 burros, apenas tinha lugar para o condutor.
Partiram os três. O feitor, ela e o corpo da sua velhota.
E os 8 filhos ficaram a olhar até a perderem no horizonte, sentada em cima do caixão da avó, com o lírio branco na mão.
O lírio branco é ficção.
A história é a do funeral da minha bisavó materna, relatada pela minha mãe.
Era assim o Alentejo, há 70 anos atrás.
Texto inserido no Desafio da escrita
Palavra do dia 9: branco