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A 3ª face

Dom | 21.10.18

Desafio da escrita - palavra: água

 

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Há muito, muito tempo, num reino muito, muito distante, havia um rei justo e bondoso, adorado por todos.

Neste reino muito distante, viviam tranquilos e felizes.

A abundância vinha do trabalho de todos, que repartiam e se ajudavam mutuamente.

Mas, como sabemos, a felicidade causa inveja a quem não a sabe construir e as histórias de riqueza deste pedaço de terra (que ninguém percebia que vinha da união dos habitantes) chegou aos ouvidos de um rei vizinho, ambicioso e prepotente.

 

Certo dia, chegou ao castelo do rei bondoso um mendigo, que se atreveu a pedir comida.

No reino, já ninguém se lembrava do que era a fome e não quiseram deixá-lo entrar.

Porém, o rei, que se apercebeu do burburinho, deu ordens para lhe darem toda a comida que quisesse e deixou-o pernoitar no castelo.

 Nessa noite, quando o rei estava prestes a adormecer, ouviu o barulho de pedrinhas a baterem na janela.

Espreitou e reparou que o mendigo o chamava, na penumbra.

Teve receio, pensou chamar alguns guardas mas depois apercebeu-se que, numa rua mais distante, várias silhuetas se moviam de forma suspeita, dirigindo-se ao castelo.

Confiou no mendigo e foi ter com ele.

Este explicou-lhe que o rei vizinho se preparava para o raptar e matar, para que ficasse dono destas terras abundantes. E ofereceu-se para o salvar.

Apenas tinha de confiar.

O rei anuiu e andaram durante toda a noite na floresta, até que chegaram a um lago onde estavam atracadas duas balsas. O mendigo e o rei entraram numa das balsas e começaram a remar.

O lago formava um espelho de água tranquilo, cumprimentado pelos primeiros raios de sol da manhã.

Porém, os inimigos estavam no seu encalce e rapidamente entraram na outra balsa, remando freneticamente para o alcançar.

Foi quando o mendigo, com palavras indecifráveis, bateu com um remo na água que, como por magia, se tornou revolta, cheia de ondulação e redemoinhos.

Aquele lago, outrora tranquilo, parecia o mar alto em dia de tempestade.

E o rei caiu à água, sem que o mendigo se esforçasse para o resgatar.

Sentindo-se traído e abandonado e quase sem forças, gritou para o mendigo:

- Porquê mendigo? Porque me trouxeste para estas águas revoltas?

Ao que o mendigo, calmamente, lhe respondeu, colocando o dedo indicador em frente dos lábios:

- Xiu! É que os teus inimigos não sabem nadar!

 

E se a vida, quando nos parece abandonar em águas revoltas, também nos estiver a proteger de inimigos maiores?

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