Desafio dos Pássaros #2.1
Tema: Acho que a coisa não vai correr bem
- Ai, ai, aiiii, querido! Mais depressa, mais depressa!
- Espera, está quase!
- Ai homem! Não pares, mais depressa! Ai! Não! Para, para!
Encosta aí debaixo da ponte. É agora!
- Oh, meu Deeeeus! Acho que a coisa não vai correr bem!
Vim ao mundo assim e todos os anos é a mesma coisa!
No dia do meu aniversário, a minha mãe repete a história e, mesmo assim, a família ri desalmadamente.
O meu pai continua a jurar que não desmaiou depois de ver a minha cabeça despontar no banco do pendura mas a mãe garante que enquanto me aparava com uma mão, teve de puxá-lo pelos cabelos para que o carro deixasse de buzinar.
Até foi sorte. Com o aparato, outros carros pararam e rapidamente chamaram os bombeiros. Afinal, estávamos a menos de 3 km da maternidade.
Cada qual vem ao mundo como quer e eu decidi vir a correr.
Talvez já gostasse tanto de desporto como agora e esse tivesse sido o meu primeiro sprint.
Ou, já conhecendo a família de loucos que me calhou, ansiasse desafiá-los. Olhos nos olhos.
Durante a gravidez, a minha mãe jurou que eu, sendo rapaz, haveria de chamar-me Manuel, como o paizinho dela.
Mas o meu progenitor, que nunca esqueceu o camaço de porrada que levou dele quando foi apanhado com a ainda namorada, no meio do pomar, recusava tal ideia.
Por ter nascido debaixo da ponte, a mamã decidiu que haveria de chamar-me Manuel da Ponte.
Porém, quando o meu pai chegou à Maternidade com o assento de nascimento, depois de me registar na Conservatória, só não levou camaço maior da própria mulher porque, enfim, estavam em pleno Hospital.
Chamo-me Pontes Manuel. Por teimosia do pai mas com medo da mãe.
Na escola tinha a alcunha de Pontinha e assim sou conhecido desde sempre.
À custa do nome, convenci-me de que a minha vida é mesmo como uma ponte: circulo entre uma margem e outra e, às vezes, escondo-me debaixo das suas arcadas.
E acho que tenho muito para vos contar!