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A 3ª face

Sex | 31.01.20

Desafio dos Pássaros #2.1

 

Tema: Acho que a coisa não vai correr bem

 

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- Ai, ai, aiiii, querido! Mais depressa, mais depressa!

- Espera, está quase!

- Ai homem! Não pares, mais depressa! Ai! Não! Para, para!

Encosta aí debaixo da ponte. É agora!

- Oh, meu Deeeeus! Acho que a coisa não vai correr bem!

 

Vim ao mundo assim e todos os anos é a mesma coisa!

No dia do meu aniversário, a minha mãe repete a história e, mesmo assim, a família ri desalmadamente.

O meu pai continua a jurar que não desmaiou depois de ver a minha cabeça despontar no banco do pendura mas a mãe garante que enquanto me aparava com uma mão, teve de puxá-lo pelos cabelos para que o carro deixasse de buzinar.

Até foi sorte. Com o aparato, outros carros pararam e rapidamente chamaram os bombeiros. Afinal, estávamos a menos de 3 km da maternidade.

 

Cada qual vem ao mundo como quer e eu decidi vir a correr.

Talvez já gostasse tanto de desporto como agora e esse tivesse sido o meu primeiro sprint.

Ou, já conhecendo a família de loucos que me calhou, ansiasse desafiá-los. Olhos nos olhos.

 

Durante a gravidez, a minha mãe jurou que eu, sendo rapaz, haveria de chamar-me Manuel, como o paizinho dela.

Mas o meu progenitor, que nunca esqueceu o camaço de porrada que levou dele quando foi apanhado com a ainda namorada, no meio do pomar, recusava tal ideia.

Por ter nascido debaixo da ponte, a mamã decidiu que haveria de chamar-me Manuel da Ponte.

Porém, quando o meu pai chegou à Maternidade com o assento de nascimento, depois de me registar na Conservatória, só não levou camaço maior da própria mulher porque, enfim, estavam em pleno Hospital.

 

Chamo-me Pontes Manuel. Por teimosia do pai  mas com medo da mãe.

Na escola tinha a alcunha de Pontinha e assim sou conhecido desde sempre.

 

À custa do nome, convenci-me de que a minha vida é mesmo como uma ponte: circulo entre uma margem e outra  e, às vezes, escondo-me debaixo das suas arcadas. 

E acho que tenho muito para vos contar!