Desafio dos Pássaros #15
Tema da semana: O Pai Natal decidiu reformar-se e as entrevistas começam esta semana. Descreve uma dessas entrevistas na perspectiva do recrutador de recursos humanos: A Rena Rudolfo.
Continuo a achar que uma ala psiquiátrica é como uma loja: há de tudo!
Sinto-me bem melhor e como ando calma e estável, as enfermeiras deixa-me andar por aqui, a interagir e a apoiar outros doentes.
Há de tudo!
A D. Alda tem uma grave depressão pós-parto e não há meio de melhorar.
A Zéfinha, como quer ser chamada, foi encontrada a 15 km de casa, depois de buscas durante dois dias: estava a seguir a luz do marido, diz. Apesar deste ter morrido há quase 20 anos.
O Diogo, um jovem de 19 anos, teve mais uma crise psicótica depois de misturar metadona e heroína e continua amarrado à cama.
E hoje, conheci um novo doente: o Sr. Nicolau.
Chegou ontem à noite, agarrado por dois enfermeiros e dois seguranças, a gritar que não está maluco.
Espreitei pela fresta da porta. Viu-me e fez um sorriso nervoso mas apelativo, entre as barbas brancas. Pareceu-me que suplicava por conversa.
E tinha razão.
Falou-me sobre a sua vida.
Muito coerente. Muito gentil e educado.
- Porque está aqui, Sr. Nicolau?
Ignorou e continuou a falar do neto.
Insisti, num tom mais alto.
-Porque está aqui, Sr. Nicolau?
- Eu não estou maluco, acreditas em mim? Eu conto-te a verdade.
Fui a uma entrevista de emprego, numa empresa de trabalho temporário porque vi um anúncio a pedir um Pai Natal. Aquilo estava cheio, toda a gente a querer um part-time nesta altura.
A entrevista parecia estar a correr bem.
Quando entrei, o entrevistador apresentou-se.
Boa tarde. Sou Rena Rudolfo. Vem para substituir o sr. que se vai reformar?
-Prazer. Sou Nicolau, o Pai Natal.
- Nome muito a propósito!
- Então que competências acha que tem para a função?
- Todas, senhor Rena. Tenho um trenó feito por mim e conto consigo para o puxar. Depois de localizar as casas, entro pela chaminé e trato do assunto num instante.
Mas antes, ando por aí com o saco a chamar as criancinhas. Acho que vamos fazer uma boa equipa, rena Rudolfo. Ho Ho Ho.
Agradeceu e mandou-me esperar na sala.
Minutos depois, apareceu a PSP e a ambulância e para aqui me trouxeram.
Foi um mal entendido.
O meu amigo Zé, que tinha ido comigo, telefonou-me agora.
Explicou-me que me enganei no gabinete. Entrei para a entrevista de porteiro de um infantário. O entrevistador chama-se Renato Rudolfo.
Eu não estou maluco…apenas um pouco surdo, mas tento que ninguém perceba.