Desafio dos pássaros #17
Tema da semana: Luz e sombra
O cuco é um pássaro que não faz ninho nem cuida dos filhos. Tem mais que fazer.
Por isso, procura o ninho de outra ave e coloca lá o seu ovo.
Sei-o bem.
Desde que a minha mãe me abandonou que oiço as comparações.
- A tua mãe é como os cucos. Deixou-te no ninho dos avós e desapareceu.
E depois, vinha o comentário sobre o meu pai.
- O teu pai é um belo pássaro. Poisou, deixou a semente e foi-se embora.
Por isso, desde pequenina que, em momentos de extrema tristeza, acredito que sou um pássaro. E que voando, posso transformar-me naquilo que sou e fazer desaparecer a dor.
Subo para um sítio alto e lanço-me.
À conta disso, quebrei alguns ossos e iniciei o acompanhamento psiquiátrico.
Até hoje, nenhum especialista conseguiu contrariar a teoria do povo lá da aldeia.
A minha mãe é um cuco.
O meu pai é um pássaro.
Eu hei-de transformar-me em ave e voar…
Tal como combinado, os meus avós vieram hoje buscar-me ao hospital.
Estou de regresso ao ninho. Aquele que a minha mãe não fez. Mas que afinal sempre foi meu.
O internamento na psiquiatria fez-me bem.
Não pelo tratamento mas pelo que conheci.
Cada pessoa é um mundo de luz e sombra.
É sempre mais fácil escolher a sombra.
Mas descobri que quem luta e afronta a sua própria escuridão, descobre a luz.
Caminho entre o meu avô e a minha avó.
Envelheceram nestas semanas em que permaneci no hospital.
Dão-me a mão e um sorriso cheio de amor.
Se sou um pássaro, está na hora de abrir as asas.
Voar em direcção à luz.
Pela primeira vez, compreendo o significado do meu nome.
O mesmo da minha madrinha.
Na escola, era gozada e chamavam-me Pança.
O meu nome é Esperança.
E juro que hei-de ser feliz!