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A 3ª face

Sex | 06.03.20

Desafio dos pássaros #2.6

 

Tema da semana: Oh não, um vírus outra vez!

 

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- O que queres ser, quando fores grande, Pontinha?

 

Eis a pergunta que mais ouvi desde a Primária.

- Quero ser marido de uma velha rica!

Esta resposta foi-me ensinada pelo tio Dino, quando  me queixei do desconforto de responder a tal questão.

 

Sabia lá eu o que queria ser!

Mais importante era saber quando me nasceria o bigode e o pêlo das pernas…

Então o Dinão, com a sabedoria de quem conhecia o mundo através de uma tela gigante, sugeriu-me essa resposta.

E acertou em cheio!

Os inquiridores, absortos em divagar sobre o assunto, esqueciam-se rapidamente de mim e eu desaparecia, liberto de perguntas sobre um futuro que nem sabia que existia.

 

Porém, chegada a altura – e não tendo encontrado nenhuma velha rica que quisesse casar comigo – decidi-me pela Enfermagem. Sempre gostei da área da Saúde e durante alguns anos, alimentei a esperança de ser médico.

Mas a média não chegou lá. Muito menos a conta bancária dos meus pais, que não me conseguiram enviar para a República Checa…

 

Sou enfermeiro, com muito orgulho e alguma desilusão pela forma como a classe profissional é tratada.

 

Há dias, com o turno a terminar, ainda tive de preparar a admissão de uma doente… à hora de me desfardar, incumbiram-me de mais uma tarefa… sempre o mesmo, têm falta de pessoal e sobrecarregam-nos!

 

Era uma jovem.

Calada. Com um olhar vazio, como se o mundo fosse apenas céu escuro…

Mas, lá dentro, eu vislumbrei uma estrela…

E nos dias seguintes, vi o Sol.

E o tal calhamaço caiu-me em cima!

 

Chegava a casa aturdido, revoltado com o que sentia. Triste por terminar o turno. Ansioso por voltar!

- É apenas uma paciente. Em breve terá alta e não regressará – tentava eu responder aos sentimentos!

 

Perdi o apetite e o sentido de humor. Chegava a casa e, com desculpa do cansaço, deitava-me.

O meu pai foi o primeiro a demonstrar preocupação e ouvi-o comentar com a minha mãe:

- Ele não está cansado. Ele anda é doente! Se calhar pegaram-lhe alguma coisa. Oh não, um vírus outra vez! Deve ser isso, anda por aí um novo vírus que começou na China! Temos de o alertar!

- Descansa querido – serenou  a minha mãe. – Este vírus atacou-o pela primeira vez mas já existe há séculos. Umas vezes tem cura, outras não.  Só não sei o nome e a cor dos olhos da virose mas ainda hei-de descobrir.

 

Mãe nem sempre encontra tratamento. Mas raramente erra o diagnóstico...

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