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A 3ª face

Sex | 27.09.19

Desafio dos pássaros #3

Um momento que te tenha marcado...

 

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- Já fizemos várias sessões e ainda só falaste dos avós. E dos teus pais, não queres falar?

- Sim, pode ser. - Respondi.

- Comecemos por uma coisa boa. Conta-me um momento que te tenha marcado, que viveste com a tua mãe.

O sorriso da psicóloga convenceu-me.

Fechei os olhos e comecei lentamente:

 

- Recordo-me do primeiro Dia da Mãe, na escola. As mães foram convidadas para o lanche, onde iríamos oferecer um postal em forma de coração, feito e escrito por nós. A professora disse-nos que poderíamos levar outro presente para oferecer, se quiséssemos.

Eu levei  uma pregadeira de  feltro, que fiz com a ajuda da minha avó.

Mas a Maria de Vasconcellos, que por ser rica tinha a mania que era mais  que nós, apareceu com um balão gigante, em forma de coração, para oferecer à mamã.

Aquela presunçosa de nariz empinado irritava-me tanto! E fiquei mesmo atrás dela, tapada pelo balão, sem conseguir ver a festa.

A minha mãe percebeu o que estava a sentir sem que eu dissesse alguma coisa. Dizem que as mães têm um sexto sentido e é verdade. Piscou-me o olho, abriu a pregadeira que tinha acabado de receber e dissimuladamente espetou o alfinete.

Puuum!

Ouviram-se gritos e alguns pularam com o susto.

Vá-se lá saber porquê, o balão gigantesco da Maria de Vasconcellos acabara de rebentar.

A minha mãe ainda comentou que deveria estar demasiado cheio mas nenhum dos presentes (filhos e mães) conseguiu disfarçar um sorriso prazeroso.

 

Calei-me e finalmente abri os olhos.

Reparei que a psicóloga estava a rir, imaginando a cena.

 

- Agora vou-me embora, que tenho um compromisso profissional.

 

Saí apressada e desci os 5 lanços de escadas a correr, sem olhar para os degraus. Poderia cair. Mas seria apenas  outra queda.

Uma coisa era certa.

Ali, não voltaria mais.

Não fosse a psicóloga perceber que ela nunca me acompanhou à escola. Muito menos no Dia da Mãe.

 

Houve balão gigante, sim. Mas foi ela própria, com o bico da tesoura, que o rebentou.

Depois disso, o corpo encarregou-se de adoecer sempre que se aproximava esse dia e não voltou a participar nas celebrações escolares.

O Dia da Mãe continua guardado numa gaveta do quarto, onde mantém todos os presentes que fez durante a escola. Talvez um dia lhos entregue…

 

 (continua...)

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