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A 3ª face

Qui | 03.01.19

Dezasseis...

 

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Nem todos os nascimentos têm tempo para grandes emoções.

Alguns poderiam ser argumentos de um filme cómico sobre maternidade.

E o teu foi mais ou menos assim.

Pedi que não nascesses no Natal nem no Ano Novo.

Imagino que deve ser triste para uma criança não ser o rei da sua festa. E ter de dividi-la com o Menino Jesus ou com um ano novo qualquer, que ainda por cima nunca é o mesmo.

 

Há 16 anos, a passagem de ano foi na nossa casa.

Fartámo-nos de trabalhar.

Preparar o jantar, a ceia, a festa, que durou dois dias.

No dia 2 limpámos e arrumámos a casa.

Encostei a esfregona à porta do quarto às 2 da manhã.

Deitámo-nos.

Mas às 4, mostraste a tua revolta. Se era para trabalhar assim, mais valia sair.

Estava na hora.

 

Levantei-me e, calmamente, fui arrumando o que já estava arrumado: o saco da maternidade e o ovinho.

Deixei a roupa preparada para a mana vestir de manhã.

E às 7 horas, telefonei ao pai, que estava a trabalhar a 70 km de distância:

- Acho que está na hora de irmos para a maternidade.

- Agora? Agora não posso que às 8 tenho um compromisso. Podes esperar?

???

- Ah, tá bem, eu espero.

 

Não espero. As contracções tornaram-se menos espaçadas e meia hora depois voltei a telefonar.

- Tens de vir já. Ou vou para o hospital.

 

Quando chegou, eu estava pronta.

Mas ele trazia o carro carregado de dossiers, computador (torre, monitor, impressora) e teve de o descarregar primeiro (imagina um filme acelerado e vês o teu pai a correr entre a casa e o carro, p’raí umas 5 vezes).

 

Até à maternidade tínhamos quase uma centena de quilómetros pela frente.

A caminho de Almada.

À hora de ponta…

- E se eu me engano na saída e vamos directos para Lisboa???

O teu pai, às vezes, tem os comentários mais inapropriados, na hora errada, não é?

 

Conseguimos chegar.

O carro ficou à porta da urgência, mal estacionado.

O pai ficou com o meu processo a fazer a ficha de entrada e eu fui ser observada.

A enfermeira colocou-me numa cadeira de rodas e foi gritando para não fazer força, enquanto me conduzia em alta velocidade até ao bloco de partos.

O pai chegou a tempo de te ver nascer, depois de ter derrubado um sinal de trânsito e de ter amassado a parte de trás do carro, a estacionar!

Mas estava lá quando nasceste. Com duas orelhas e cinco dedos em cada mão e em cada pé, que eu fiz questão de contar…

e foi ele que te cortou o cordão umbilical.

 

Foste um bebé tranquilo e bem disposto.

Durante vários anos, tive medo.

Tive muito medo.

A tua maturidade emocional e o “bom coração” levavam-se a suspeitar que estavas aqui por engano.

Que eras um anjo que, por acidente, me tivesse caído no colo.

E que, a qualquer momento, Deus se ia aperceber que não estavas no céu e te vinha buscar.

 

A adolescência dissipou-me o receio.

Às vezes, consegues-me tirar do sério.

Mas mesmo aí, continuo a admirar a tua inteligência e a rapidez de raciocínio.

A tua cultura geral.

Por isso às vezes te provoco. Só para te testar…

 

Dezasseis.

Dezasseis anos que passaram num ápice.

É a fase de andares à nora, sem perceber o que vai ser o futuro.

Aliás, nem sabes muito bem o que é o presente, pois não?

 

Ainda não compreendes mas um dia vais ler isto e perceber que as mães têm de ser chatas.

Que têm de repetir muitas vezes os mesmos sermões para soprarem do coração o medo de vos ver sofrer.

A vida vai ensinar-te isto. A seu tempo.

 

Por ora, só queria que percebesses isto:

Que tens capacidade para seres o que desejares. E que conseguirás mudar o mundo, se assim quiseres.

Só tens de te empenhar.

 

Muitos parabéns, meu príncipe!

 

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