E tu, o que queres ser quando fores velho?
Eu já sabia.
Da leitura técnica.
Da observação empírica.
Mas ouvido na primeira pessoa tem sempre outro impacto.
Há uns anos, co-organizei um seminário sobre envelhecimento activo.
Na discussão sobre os oradores a convidar, alguém sugeriu um médico octogenário, que ainda exercia.
Ele veio.
Cheio de sentido de humor, explicou a dificuldade em levantar-se todas as manhãs. Uma dor aqui, um músculo preso acolá, uma articulação a estalar...mas levantava-se. Há muito que aceitara que o corpo envelhece e é necessário respeitá-lo e aprender a viver com as dores e incapacidades. Sinal de que continuava vivo.
Ainda dava consultas, sim. Diariamente. Levantava-se para isso.
Mas o que eu mais recordo do seu discurso foi outra coisa.
Este médico exercera medicina do trabalho numa grande empresa durante muitos anos.
Acompanhava os trabalhadores, conhecia-os por fora...e por dentro.
E uma das suas preocupações era preparar-lhes a reforma.
Todos eles ansiavam por essa etapa de ouro: deixar de cumprir ordens e horários, descansar e fazer apenas o que lhes apetecesse. Tanta felicidade!
Todavia, os muitos anos de experiência ensinaram ao médico que existem dois tipos de trabalhadores:
- aqueles que não têm qualquer actividade pós-laboral, não desenvolvem um hobbie, não se inserem numa associação ou grupo de interesse.
- os que sempre desenvolveram uma actividade paralela, nem que seja uma horta, um desporto, a organização de um evento, um grupo coral...
Estes últimos, fazem umas férias prolongadas quando acabam a vida activa mas rapidamente são absorvidos por novas rotinas, aprofundam os hobbies, dedicam-se a um interesse novo ou antigo de modo mais aprofundado.
Continuam a queixar-se de falta de tempo mas vivem felizes.
Os primeiros, depois de desfrutarem do descanso inicial, entregam-se ao marasmo.
Sem horizonte, sem metas, sem motivos para acordar no dia seguinte.
Normalmente morrem ou desenvolvem qualquer doença incapacitante no prazo de um ano ou dois.
Por isso, este médico tinha o cuidado de ir percebendo se os pré-reformados "viviam" além do trabalho. Sugeria-lhes actividades, envolvia-os em eventos com antigos colegas.
E defendia que é condição indispensável para a qualidade de vida dos idosos.
Em qualquer idade mas, sobretudo, na pós-reforma, a actividade motora e mental é indispensável para a nossa saúde física e mental.
Não há vida que resista ao vazio, à ausência de objectivos e de sonhos.
A velhice prepara-se hoje, aos 20, aos 40 ou aos 50 anos.
Ao aceitarmos que não seremos jovens para sempre.
Ao respeitarmos o nosso corpo.
Ao continuarmos a sonhar e a querer mais.
Sem parar. Até ao último minuto.
A isto se chama envelhecimento activo.
A isto se chama VIVER.
A Organização Mundial da Saúde define Envelhecimento Activo como o processo de optimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança, para melhorar a qualidade de vida das pessoas que envelhecem.
E tu, já pensaste o que queres ser quando fores velho?