Ei, tu aí que me viraste a cara no Peditório da Liga Portuguesa Contra o Cancro...
(Imagem retirada da Net)
… podes voltar atrás e ouvir-me?
Deixa-me dizer-te que ninguém é obrigado a colaborar com a Liga. Ninguém é compelido a apoiar os rastreios nacionais que têm salvo milhares de vidas através do diagnóstico precoce, nem as acções de prevenção que se fazem em todos os cantos do país. Muito menos, a amparar doentes e famílias quando a doença os atinge e o mundo desaba.
Estou aqui em regime de voluntariado e deixei a minha família em casa (que só se reúne ao fim de semana) e tenho ainda tanto por fazer!
Por isso, quando te digo boa tarde e te pergunto se queres colaborar com a Liga, convidando-te a enfiar uma moedinha na caixa, não me vires a cara como se tivesse lepra ou estivesse a pedir-te a alma.
Diz-me apenas que não, dá-me um sorriso, torna-te invisível a olhar para o telemóvel mas não me vires a cara com ar de desprezo. Eu, enquanto um dos rostos dos milhares de voluntários deste país, não mereço!
É verdade que estou aqui porque quero. Porque faço questão de ajudar e adoro observar esta verdadeira montra de comportamentos humanos a reagir a um estímulo tão simples. A minha veia sociológica extasia-se nestas horas de observação directa e divirto-me a categorizar as pessoas em várias classes:
- os sinceros, que nos dizem que já deram noutro lado, e percebemos que estão a ser verdadeiros, ou que dizem educadamente que não querem dar;
- os mentirosos, que murmuram apressadamente que já colaboraram mas nem nos conseguem olhar nos olhos;
- os invisíveis, que se encolhem ou fingem estar no meio de um importante telefonema;
- os bondosos, que já deram dinheiro várias vezes mas nunca conseguem dizer que não;
- os mal-educados, que nos viram a cara ou mostram um ar de desprezo;
- os surpreendentes, como dois jovens de Leste, que mal falam português e que não terão percebido o que eu e a minha colega estávamos a pedir à porta do supermercado e nos apareceram com duas queijadas para nos oferecer!!!! Por mais que eu tentasse explicar que se tratava de um peditório para a Liga Portuguesa Contra o Cancro, ou eles não perceberam ou quiseram premiar-nos pelo esforço de passarmos três horas em pé a pedir dinheiro. Porque corpinho de fome, eu não tenho, de certeza absoluta!
Obrigada a todos que colaboraram!