Esta semana descobri que fui uma mãe de Verão muito má
Desde sempre que tenho o privilégio de frequentar praias com pouca gente.
A costa alentejana, desde Melides a Tróia faz-nos acreditar que o mar é infinito, não fosse a Arrábida recortar essa ilusão.
E, nesta imensidão, é fácil passar o dia afastado de outras famílias.
Mesmo quando passar o dia na Comporta nos dava privacidade e amplitude.
E há sempre aquelas praias escondidas entre as dunas que podem ser só nossas por um dia.
É raro fazer férias no Algarve, por vários motivos, um dos quais, a sobre-população das praias.
São verdadeiras colónias de espécimes avermelhadas, com um burburinho que abafa o som das ondas do mar.
Ainda assim, tenho o privilégio de dormir com um conhecedor da região e sempre conseguimos encontrar pequenos paraísos.
Ora este ano, calhou vir parar ao Algarve, a uma casa junto ao mar e a uma praia que, apesar de não estar a abarrotar, não nos dá isolamento.
Pelo que, finalmente, tenho presenciado o comportamento de muitas famílias com filhos pequenos e aprendido como devem agir os pais no Verão.
-Luís, não fiques na areia!
- Manel, o lugar para te sentares é na toalha. Olha que amanhã não vens!
- Maria, porque é que colocaste a mão na areia? Agora tenho que voltar a ir buscar mais água no baldinho!
- Inês, brinca aqui na toalha, não sujes as mãos!
Afinal, descobri que as crianças não podem ter contacto com a areia, apesar de estarem numa praia.
É perigoso entrar em contacto com os minúsculos minerais sílicos, que os podem levar a passar meia hora entretidos a sentir escapar os grãos por entre os dedos.
Suspeito que as praias, mais cedo ou mais tarde, venham a ser cobertas de ladrilhos ou tijoleira, para se transformarem em piscinas assépticas.
E eu, que passei a vida a enrolar-me na areia com os meus filhos, que não os desinfectei quando "comiam" areia ou se enterravam até ao pescoço, estou cheia de remorsos.
Descobri já tarde que fui mesmo uma mãe de Verão muito má!