Eu, a sofrer de síndrome BPF
A história é conhecida mas repito-a aqui para os mais distraídos:
À frente de um quartel, havia um jardim com árvores frondosas e bancos de madeira, onde as pessoas gostavam de se sentar a descansar.
Ora como os bancos precisavam de manutenção, mandaram um pintor proceder à pintura dos mesmos.
Quando terminou, e para evitar que alguém se sentasse com a tinta fresca, o pintor pediu ao sentinela do quartel para não deixar ninguém sentar-se naqueles bancos.
O sentinela obedeceu e quando terminou o serviço, repetiu a ordem ao substituto. Que por sua vez replicou ao seguinte e assim por diante.
Durante dias, semanas e meses, ninguém foi autorizado a sentar-se nos bancos daquele jardim.
E quando alguém perguntou porquê, ninguém soube explicar o motivo.
A esta rotina de fazer as coisas todos os dias sem questionar e reflectir, costuma chamar-se Síndrome do Banco Pintado de Fresco.
Eu, que no trabalho até costumo questionar e tentar perceber o porquê daquilo que faço, ontem rendi-me. Também sofro de Síndrome BPF.
Eu explico:
Assumi funções de uma colega que está ausente, o que implica trabalhar com uma aplicação informática relativamente complexa e a qual não domino.
Ontem, pediram-me para executar umas funcionalidades que eu não sabia fazer. Perguntei à colega ausente e ela confirmou-me que o programa não o fazia.
Eu repliquei a informação à pessoa que me fez o pedido e arrumei o assunto.
Todavia, esta não ficou satisfeita nem convencida. Telefonou para o apoio técnico da empresa que vendeu o programa informático e explicaram-lhe como fazer.
Não imaginam o ar triunfante da criatura quando entrou no meu gabinete a explicar-me aquilo que, no fundo, é o meu trabalho!
Não dei parte fraca. Agradeci a aprendizagem com um grande sorriso.
Mas no fundo, o meu orgulho ferido ficou a devorar-me as entranhas.
Caramba, porque não ousei sentar-me no banco do meu jardim?