Heróis que têm medo
Ele não terá mais de 25 anos.
Deitou-se frente a mim, tenso, com os olhos muito abertos e desviei o olhar para que não se sentisse observado.
Os gestos revelavam um nervosismo contido e só rebentaram quando ela se colocou ao seu lado.
Num movimento incontrolado e repentino, esticou-se e tapou os olhos com o braço.
A enfermeira perguntou-lhe se estava bem porque ainda nem tinha sequer começado e ele, com os olhos muito cerrados, confessou que a agulha era muito grossa para espetar o braço. Que era só esse momento e depois passava.
E passou, de facto. Assim que o sangue começou a encher o saco da colheita, aliviou e foi-se entretendo com o telemóvel.
As enfermeiras gracejaram com o seu sotaque alentejano e ele descontraiu, até ao momento em que o sinal sonoro indicou que chegara o momento de retirar a agulha.
É assim que se salvam vidas.
Os verdadeiros heróis têm medo. Mas travam batalhas e conseguem vencê-lo pelo bem dos outros.
Hoje foi dia de doar sangue.
E de receber este exemplo tão bonito de coragem.