Já não cabemos na fotografia...
A minha avó materna teve 10 filhos. Sobreviveram 8.
A minha avó paterna teve apenas 2 rapazes.
Quis o destino que esses dois rapazes se casassem com 2 irmãs.
De modo que eu, quando era pequena, nunca tive de me dividir entre duas famílias na noite de Natal.
Éramos apenas uma família.
Os meus avós paternos morreram cedo. E a Consoada, desde que me lembro, era passada com os avós maternos e a fratria.
Os irmãos, por serem tantos, tinham diferenças de idade significativas e eu tenho primos que poderiam ser meus pais. Mas tenho outros da minha idade e as brincadeiras desses dias eram memoráveis.
Desde que os meus avós morreram, a família só se volta a juntar em casamentos e funerais.
Funerais, cada vez mais.
O meu marido também tem uma família grande, de ambos os lados. Mas sempre conviveu mais com a família materna. Os avós tiveram 4 filhos, com pouca diferença de idade. O que fez com que os primos sejam uma escadinha quase perfeita. Cresceram todos juntos. Passavam as férias todos juntos, debaixo da saia da avó.
O amor que os une faz com que pareçam irmãos.
Nesta família, o Natal sempre foi um momento de ajuntamento, no monte alentejano. Com o lume a crepitar na grande chaminé, onde dantes se curavam os chouriços. E onde se ouvia o som do acordeão. Ainda assisti, imagino que sempre tenha sido assim.
Depois a avó ficou muito velhinha e os Natais deixaram de ser em sua casa. Para além disso, os netos começaram a casar e a ter filhos e tornou-se difícil passarem o Natal todos juntos.
Foi quando surgiu o Natal dos primos. Uma festa que se realiza depois do dia 25 e em que está toda (ou quase toda a família). Tornou-se incomportável dar prendas a todas as crianças, pelo que sorteamos os nomes para o Natal seguinte. Assim, todas recebem uma prenda.
Quando a matriarca morreu, temi que a tradição se perdesse.
Mas não. Todos os anos nos reunimos.
Pelo menos, uma vez por ano, estamos juntos.
No Sábado, cumpriu-se a tradição.
Somos muitos. Os 8 netos multiplicaram-se em 16 bisnetos. Mais as caras-metades. E os pais.
No final da festa, tiramos uma fotografia de grupo.
Este ano, a foto teve de ser no jardim, que não havia ângulo para a máquina nos apanhar dentro de casa.
Já estava escuro mas os fotógrafos da família têm o equipamento necessário.
Difícil foi conseguirem captar-nos a todos.
Ainda não vi as fotos mas desconfio que alguns ficaram de fora.
Foi boa ideia estarmos no exterior. Tenho a certeza que algures, lá em cima, um casal de velhotes nos estava a observar.
Somos muitos.
Já não cabemos na fotografia.
Mas é um orgulho pertencer a uma família destas!