Mas tu nunca te queixas?
Há dias, em que algumas colegas minhas se queixam 7 horas seguidas.
É o tempo que está frio.
É a sala que está quente.
É o excesso de trabalho.
É termos que estar fechados no gabinete, com chuva. Ora se estávamos bem em casa.
É termos de estar fechados no gabinete com sol. Ora se estávamos bem na praia.
É o dinheiro que não chega.
É a cabeça que dói.
O cabelo que tem que ser pintado.
O tempo que não dá para nada.
Agora parece que vem aí o calor.
E as minhas colegas queixam-se agora do meu sofrimento futuro, a usar estas meias de compressão até às virilhas, pelo que sandálias e vestidinhos vão estar interditos.
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E de mim, nunca ouvem uma queixa. E, se me lamento, é com humor e muita ironia, para sacudir o que me incomoda.
Eu sei que estou deslocada deste mundo.
Eu vim de um planeta onde trabalhava com quem nada tinha, com doenças terminais, com problemas mentais, lutos, toxicodependência...com o vazio da vida.
Apesar de nunca ter gostado de me queixar, aprendi a relativizar as minhas dores, dificuldades e contratempos.
E, de facto nunca me queixo.
E nem me apercebo disso.