Não é suposto, Julen
Foi breve a tua história por aqui, Julen.
Partiste sem perceber o Mundo.
Ninguém te explicou porque é que os adultos deixam buracos de 100 metros de profundidade a céu aberto.
Ontem, ter-te-ás perguntado porque passaram 13 dias a tirarem-te de um buraco para te devolverem a outro, logo de seguida.
Também não te consigo explicar.
A única diferença é que, quando caíste a primeira vez, foste sozinho e em queda livre.
Ontem, o amor do mundo inteiro amparou-te quando desceste devagarinho.
Não suaviza nada, pois não? Este mesmo mundo inteiro que acompanhou com esperança o teu resgate será incapaz de acalmar a dor no coração dos teus papás.
Talvez já não penses nisto.
Talvez estejas agora a jogar à bola com o teu irmãozinho, feliz pelo reencontro.
Quem sabe ele ter-te-á ido buscar - que os anjos cabem em qualquer lado - e nunca estiveste sozinho.
Mas nós pensamos.
Porque em todas as famílias há Julens que correm felizes pelos campos. Porque é suposto os pais deixarem os filhos brincar na natureza.
Só não é suposto os homens deixarem as crianças serem engolidas pelo chão.
Não é suposto um pai e uma mãe enterrarem um filho. Ou dois.
E sim Julen, não é suposto que consigas compreender este Mundo.
Eu também não.
Que descanses em paz!