O conforto não é uma cotovelada
Num cenário imaginário, às vezes pensava em como seria um funeral nestes tempos de distanciamento social.
Infelizmente, o que só acontece aos outros caiu inesperadamente na minha família e agora sei a que sabe a dor dentro da dor.
Quando alguém jovem parte precocemente e de maneira abrupta, resta apenas o conforto uns dos outros. O carinho e o amparo que só o contacto físico pode proporcionar.
Agora, até isto o Covid nos tirou.
Não há beijos nem carinhos.
Os soluços ficam emaranhados atrás de um pano.
Os abraços incontidos têm o travo pecaminoso dos amores proibidos.
E uma máscara nunca conseguirá disfarçar o desespero de uma mãe que se separa assim de um filho.
O conforto, esse, faz-se agora com uma cotovelada e um aceno.
Resta rezar.
Pelo descanso de quem parte.
E pela saúde de quem fica.