O mito do voluntariado: ninguém dá nada a ninguém
Celebra-se hoje o Dia Internacional dos Voluntários. Daqueles que, a troco de nada, cedem o seu tempo a bem de alguém ou de alguma coisa.
Mas será mesmo assim?
O Voluntariado é definido como um conjunto de acções de interesse social e comunitário, realizadas de forma desinteressada no âmbito de projectos, programas e outras formas de intervenção ao serviço de indivíduos, famílias e comunidades, desenvolvidos sem fins lucrativos, por entidades públicas ou privadas.
Ou seja, alguém que, de forma desinteressada decide responsabilizar-se por desenvolver acções a bem da comunidade.
E alguém acredita que se cede tempo, recursos e energias sem interesse? Acrescidos da responsabilidade de cumprir um horário ou uma escala, mesmo que esporádicos?
Quem aí me está a ler e tem por hábito fazer coisas que não lhe interessa sem ser obrigado a tal?
Por isso eu creio - e já coordenei alguns projectos de voluntariado - que isto é um mito. Uma definição oficiosa que não existe na realidade.
Um projecto de voluntariado, quando bem organizado, é um trabalho perfeito. As pessoas estão lá porque gostam e enquanto gostam. Sem obrigação de continuar.
E estar onde nos sentimos bem, sem esperar nada em troca, é raro.
O voluntário não ganha dinheiro. Pois não.
Nem regalias.
Mas espera muito em troca.
Em primeiro lugar, espera a realização pessoal porque sente prazer em ajudar.
Assume-o como uma missão. E não se trata apenas de apoio social. Pode tratar-se de colaborar num evento cultural, na defesa do ambiente, na recolha de lixo, por exemplo.
Depois, quer sentir-se útil. Preencher-se enquanto pessoa e manter-se ligado à comunidade.
Encontrar a segurança de quem ocupa um lugar no mundo e quer sentir que faz aqui falta.
Finalmente, e mesmo que o negue, aguarda reconhecimento. Que alguém agradeça o seu contributo. Que reconheça o seu empenho e que o valorize.
Porque o voluntário não dá.
O voluntário troca o seu contributo por sorrisos, por um obrigado, por um olhar de reconhecimento pelo seu esforço. E pela felicidade de fazer bem aos outros.
Esta é a moeda do voluntariado. Quem não compreende, desconhece que estas acções mantêm a engrenagem social, embora de forma quase invisível.
Por isso, da próxima vez que se cruzar com um voluntário, faça dele um milionário. Pague com sorrisos, com um gesto de carinho e um obrigado.
É tudo quanto ele precisa para continuar.