O programa do Raminhos é 100% português?
Há por aí alguém que ainda não tivesse visto o Raminhos e a sua “Missão 100% português”?
Parece que a controvérsia está lançada, o que é um óptimo indicador de sucesso para a série.
O 100% português é, como se pode verificar na ficha técnica, um programa da EndemolShine, uma empresa holandesa. Se ficaram atentos no final, viram que o programa é patrocinado por várias empresas multinacionais, o que parece contra-senso.
Mais. Como será de supor, muitos dos produtos portugueses não o são a 100%. Há produtos portugueses embalados no estrangeiro, equipamentos fabricados em Portugal mas cujos componentes vêm dos 4 cantos do mundo. E as roupas, são confecionadas exclusivamente com matérias-primas tugas? Claro que não!
A globalização da economia é isso mesmo: uma inter-dependência de países e um circuito importação/exportação que interessa a todos.
Que seria de nós, portuguesinhos, se só passássemos a consumir produtos nacionais? Em primeiro lugar, voltaríamos aos tempos da fome, porque não produzimos o suficiente para o auto-consumo. Depois, teríamos que abdicar de muitos bens por não sabermos/termos condições e recursos para os produzir. E, finalmente, com este espírito proteccionista, os nossos países amigos faziam birra e deixavam de importar as nossas coisinhas.
É isto que o programa tem intenção de fazer?
Óbvio que não!
Quando vejo e revejo os episódios, aquilo que mais faço é rir! Desalmadamente! Logo, concluo que se trata de uma série humorística. Como qualquer outra, é planeada, ensaiada, gravada com vários takes, embora pareça tão espontânea e natural. E é isso que me torna fã. Quase que acreditamos que as Marias comem torradas cancerígenas ou que vão em jejum para a escola, não é?
Mas, entre gargalhadas, estou a conhecer e a reconhecer produtos portugueses, cuja existência desconhecia por completo! Estou a fazer uma aprendizagem sobre a fabricação e codificação de muitos produtos, que me tornarão uma consumidora mais esclarecida.
E, de facto, estou a tomar consciência de que posso optar pelo consumo de produtos portugueses com maior frequência;
Que, ao fazê-lo, diminuo a pegada ambiental porque estou a consumir bens que não gastaram tantos recursos para chegar a minha casa (sobretudo no transporte).
Um programa que equilibra entretenimento, humor e aprendizagem, parece-me perfeito! Muito sucesso, Raminhos, estou a torcer por ti!
Mas, sejamos francos: embora passemos a olhar mais para as etiquetas de fabrico, a decisão vai descambar quase sempre na outra etiqueta: a do preço! E essa é que é a grande missão: terão os portugueses capacidade económica para poder optar pelos bons produtos nacionais?