O Sistema Nacional de Saúde no seu melhor
Eu, que tenho ADSE, normalmente faço consultas no privado.
O SNS é aquilo que a gente sabe...ouve falar...lê nas notícias.
O Hospital de referência da minha zona de residência, o HLA (O Hospital do Litoral Alentejano) goza de má fama.
Faltam médicos especialistas, enfermeiros, os atrasos nas consultas são de horas, a espera por uma consulta é de meses.
Pois calhou que eu, depois de fazer o rastreio do cancro do colo do útero, fui encaminhada para uma consulta de Patologia Cervical no HLA.
Pânico!
Fui avisada da consulta por um SMS.
A carta chegou uma semana depois.
A consulta marcada no médico de família, agendada por ele para me explicar o resultado do exame e que me iria encaminhar para a especialidade, ocorreu 2 dias depois de ter voltado da consulta de especialidade.
Pelo menos aqui, o HLA foi célere. Muito célere.
Na semana passada, conforme agendado, fui fazer uma colposcopia com biopsia.
Cheguei à hora. Entrei À HORA.
Enquanto me espernegava na cadeira e enfiava as pernas nos apoios, o coração contraía-se. Apertadinho, encolhido de puro cagufo.
Não pelo exame. Mas pelo que poderá vir a seguir...
Pronta para que a médica me vasculhasse as entranhas e me roubasse um bocadinho para amostra.
Com vontade de fugir dali a sete pés.
A enfermeira foi-me explicando os procedimentos, transmitindo-me tranquilidade.
A médica foi complementando.
Acabámos as três a discutir a importância da comunicação entre médicos e pacientes.
Que é isso que faz a diferença no atendimento.
Que é isso que um doente valoriza quando rotula um bom ou um mau médico.
Elas deram exemplos de casos em que as pacientes se queixam de maus-tratos quando, afinal, apenas faltou dar atenção à parte emocional.
Eu, do outro lado, sei perfeitamente que, se o médico não nos explica o que está a fazer, se nos trata como um corpo vazio, o cérebro apenas regista a sensação de abandono.
E, mesmo que a intervenção física seja um sucesso, as cicatrizes emocionais ficam para sempre.
A fragilidade emocional é um efeito colateral de qualquer doença física.
E esta não se combate com químicos. Cura-se rapidamente com empatia, capaz de transmitir segurança e tranquilidade ao paciente.
Se calhar é isto que faz mais falta no SNS.
Que não nos tratem como carros numa oficina apinhada.
E esta equipa sabe-o bem.
Conseguiu que eu relaxasse e que aqueles minutos de angústia fossem ultrapassados pelo carinho com que fui tratada.
E é disso que me estou a lembrar agora, mais do que dos procedimentos desagradáveis que este exame implicou.
Posso continuar a ouvir histórias terríveis do SNS e do HLA.
Porque é sobre isso que nós, cidadãos, mais gostamos de nos pronunciar. Do que corre mal. Que infelizmente acontece com frequência.
Mas também é importante partilhar o que corre bem. E eu acredito que acontece a todas as horas.
Mostrar a gratidão para com aqueles que, mesmo confrontados diariamente com consultas a mais, poucos recursos e sabe-se lá que mais, continuam a colocar o paciente acima de todas as angústias pessoais.
Obrigada Drª Carmen Rebanal e Enfª Sónia Tojinha. Fui mesmo muito bem tratada!
São pessoas como vocês que fazem a diferença.
São o Serviço Nacional de Saúde no seu melhor!