Olá, sou prato numa cantina escolar e quero ter direito à greve
Foto retirada da net
Trabalho todos os dias, sinto-me usado, maltratado e perdi todos os meus direitos!
Há anos que trabalho na cantina de uma escola pública. Comecei as minhas funções numa época em que a cozinheira e as ajudantes começavam logo de manhã a descascar, a temperar, a arranjar os alimentos e a colocá-los no fogão. Nos arredores do edifício, sentia-se o aroma da comida caseira, que geralmente despertava o apetite aos meus clientes. Os alunos, os professores e até funcionários públicos de outros serviços vinham usar-me com prazer!
É verdade que não existia uma tabela nutricional e a ementa não era elaborada por um especialista mas raramente reclamavam do que eu transportava e sentia-me sempre bem servido.
Depois, veio a moda das parcerias público-privadas, dos contratos com empresas e eu passei a servir uma porção aquecida de refeições que chegam congeladas e que me despejam em cima apressadamente, antes de me entregarem ao cliente. Na maior parte das vezes, sinto-me envergonhado daquilo que sirvo. Tem dias que nem percebo muito bem o que contenho, noutros, sou alvo de chacota por me apresentar com alimentos mal cozidos, espapaçados, duros, sem sabor…
Perdi todos os meus direitos: à qualidade da matéria-prima, às boas condições de trabalho do ponto de vista moral, à realização profissional…aos sorrisos das crianças por ficarem satisfeitas com a minha prestação! Em vez disso, sou alvo de reclamações, cospem-me em cima, devassam a minha imagem nas redes sociais.
Trocam a minha combinação perfeita de nutrientes por máquinas de snacks, por fast food ou doces que enganam o estômago até chegarem a casa e recusam os meus serviços!
Eu trabalho num país que se orgulha da sua gastronomia e com excelentes cozinheiros mas sou sujeito a maus-tratos no meu local de trabalho.
Quando perceberão que esta estratégia de contratar refeições em vez de cozinheiros não resultou? Quando se aperceberão que, em vez de promover a alimentação saudável, estão a empurrar os nossos jovens para as alternativas menos saudáveis que existem dentro da própria escola ou nos arredores? Quando voltarei a ser valorizado e a sentir orgulho do meu trabalho?
Por isso, eu reclamo: sou prato numa cantina escolar e quero ter direito à greve!