Se a vida te dá laranjas, agradece com figos da Índia
A vida é simples e os melhores ensinamentos surgem da maneira mais espontânea e singela.
Como isto:
Os meus pais têm uma horta que cultivam com o maior carinho do mundo.
A horta tem uma vedação natural e tão antiga que suspeito que quando ele nasceu (há 76 anos), já existia.
É de parras.
E as parreiras, no final do Verão, dão fruto. Os chamados figos-da-Índia.
Apanhar estes figos exige perícia e cuidado, por causa dos picos que têm na casca.
Têm que ser apanhados com a humidade da manhã, para que os picos não se soltem e se cravem no nosso corpo.
São colhidos com uma tenaz, delicadamente, para que não fiquem "tocados".
Depois, com uma pinça, arrancam-se todos os picos, um a um, de cada figo, para evitar que quando os manuseamos, nos piquem.
Nem todas as pessoas se atrevem.
Eu nunca o fiz, apesar de saber a teoria toda. Afinal, ainda tenho quem me faça o trabalho!
Como não será de estranhar, em pleno Alentejo, o meu pai tem amigos que também têm hortas. E pomares.
Ontem, um desses amigos convidou o meu pai para ir ao seu pomar apanhar laranjas, que tem em excesso.
O meu pai sabe que ele adora figos-da-Índia mas que não os sabe colher.
Decidiu lá ir apanhar laranjas mas surpreendê-lo com um presente de figos.
Por isso, hoje, os meus pais levantaram-se mais cedo para irem ao parral fazer a colheita.
Passaram uma parte da manhã a arranjar os figos.
E quando terminaram, o meu pai preparou-se para ir ao tal pomar.
Nesse momento, o amigo apareceu.
Saiu do carro com um enorme saco de laranjas!
E recebeu, inesperadamente, um balde cheio de figos-da-Índia.
Quando os meus pais me contaram a troca inesperada, sorri.
Sorri por fora, pela história da troca de laranjas por figos. O amigo do meu pai poupou-lhe o trabalho da colheita.
E, sem esperar, voltou para casa com a fruta que tanto gosta.
E sorri por dentro, pela lição de gratidão.
Se a vida fosse um pomar e as relações humanas fruta amadurecida, seríamos todos mais felizes?
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