Desligou o telefone e foi como se a fechadura da masmorra onde aprisionara as memórias se tivesse estilhaçado. Um turbilhão de imagens soltaram-se e invadiram-lhe os sentidos. Turvou-se-lhe a visão, emudeceu-se o presente e José voltou a ser o menino franzino na sala daquela escola velha e a cheirar a bafio. Sempre se sentira diferente dos colegas. Evitava as brincadeiras de rapazes e preferia ficar a um canto do recreio, a imaginar um mundo paralelo, onde fazia de conta que era. (...)
Madalouca. Chama-se Madalena mas todos lhe chamam Madalouca. Até nem responde quando a tratam pelo verdadeiro nome. Aqui, onde já vive há 3 meses - ou três anos, saber lá - também acode pela alcunha. Com a diferença que a chamam com carinho e não com aquele tom de soberba, de quem se julga normal neste mundo. Madalouca sempre foi irritadiça. A mãe dizia que tinha apanhado a Lua. Por qualquer contrariedade, tinha fúrias e ataques e quase se ia no choro. Só se controlava e (...)
I Já estava vestida, frente ao espelho e preparava-se para colocar a máscara. Era hora de descer do quarto de hotel, para que chegasse ao baile de Carnaval à hora marcada. Conhecera-o num site de encontros, num momento de curiosidade e de maior solidão. Algumas colegas divertiam-se a marcar encontros casuais nesse site e ela, casada, nunca tivera coragem de perguntar como é que isso funcionava. O seu casamento mantinha-se apenas à hora de jantar, que era cada vez mais tarde (...)