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A 3ª face

Ter | 26.01.21

O amor nos tempos de Covid

A 3ª face
  Ele esperou por ela um pouco mais acima. Estendeu-lhe a mão. Ela agarrou-a, levantou-se e foi. Dançam agora os dois, pés ligeiros a pisar as nuvens (sorridentes e aconchegados, como há sessenta anos atrás, nos bailaricos da aldeia, quando se apaixonaram), indiferentes à dor dos filhos e dos netos. É que as lágrimas caem no chão. Não sobem ao Céu!   Em homenagem aos casais que têm partido com poucos dias ou horas de diferença, vítimas de Covid (conheço alguns)    
Ter | 23.07.19

Morte, espera aí que eu já vou (escrita criativa)

A 3ª face
  Os últimos meses não foram fáceis. Estes dias, em que já nem comia e apenas se aguentava com as doses de morfina, haviam-se tornado um suplício. Bia sentia-se permanentemente atordoada e por vezes, tinha dificuldade em falar e perceber o que lhe diziam. Sabia que tinha delírios e chamava pelo neto. Se não ouvisse os comentários das enfermeiras, julgaria que eram apenas sonhos. Mas não! Há muito que ELA estava no quarto. Queria levá-la, sabe-se lá para onde mas Bia não (...)
Ter | 20.11.18

Madalouca (escrita criativa)

A 3ª face
  Madalouca. Chama-se Madalena mas todos lhe chamam Madalouca. Até nem responde quando a tratam pelo verdadeiro nome. Aqui, onde já vive há 3 meses - ou três anos, saber lá - também acode pela alcunha. Com a diferença que a chamam com carinho e não com aquele tom de soberba, de quem se julga normal neste mundo.   Madalouca sempre foi irritadiça. A mãe dizia que tinha apanhado a Lua. Por qualquer contrariedade, tinha fúrias e ataques e quase se ia no choro. Só se controlava e (...)
Qua | 10.10.18

Desafio da escrita - dia 10: morte

A 3ª face
    A mulher não lhe atendia o telefone desde que saíra de casa. Por isso, decidiu enviar a mensagem: - A minha vida sem ti não vale a pena. Que sejas feliz sem mim. Adeus.   João bebeu mais um gole de medronho, desta vez com todos os comprimidos que retirara da embalagem de calmantes que a mulher deixara na gaveta da mesa-de-cabeceira. Ela tomava-os há anos, justificando que era para não se aperceber das bebedeiras do marido, quando este chegava fora de horas. Até que nem (...)
Qua | 03.10.18

A morte pode esperar

A 3ª face
 - C'um raio. Já faz frio! Porque não posso ficar mais um bocadinho na cama? Passei a maior parte da vida a desejar a reforma para esquecer o relógio e os horários e agora isto! Raios parta o meu feitio de não querer ficar parada! Quem me manda a mim dizer à Belinha para passar por cá e irmos juntas para a piscina?    Manuela levanta-se contrariada. A cama é solitária, há anos que perdeu o marido e vive sozinha. Do que mais falta sentiu foi dos pés aquecidos no Inverno. Mas (...)
Seg | 26.03.18

Uma bola e duas rodas

A 3ª face
  Mais um jovem futebolista tombou em campo, este fim-de-semana. Morreu sem causa aparente. Assim, como se a morte fosse um a bola invisível que se rematasse para o centro da baliza da vida e gritasse golo. O meu filho joga futebol e é inevitável sentir um aperto no peito sempre que me deparo com notícias destas.  Cada vez mais, sempre que ele aterra no relvado, o terror chuta-me estas imagens e faz-me acelerar o ritmo cardíaco. Sabem lá a vontade que eu tenho, quando o vejo mais (...)